Eis mais um livro de Zidrou, autor conhecido em Portugal pela fabulosa série Verões Felizes, ou A Fera. Os livros de Zidrou costumam ser bastante empáticos, apostando na caracterização das personagens com elementos peculiares que as fazem únicas – assim se criam ligações com os leitores! Mas este Rosko vem a revelar-se com um estilo narrativo distinto do que é usual a Zidrou.

A história

A história decorre num futuro indistinto mas próximo onde as grandes empresas têm poder para manobrar circunstâncias e influenciar o poder judicial – sobretudo quando assim dá jeito para obter uma maior visualização televisiva! Empresas detém empresas e não é de todo estranho vermos uma empresa de segurança privada associar-se à rede televisiva para ajudar na construção de narrativas.

O volume começa por nos mostrar dois seguranças privadas que perseguem um assaltante de malas – deixando-o ir livremente de seguida quando se apercebem que a assaltada não tinha pago as quotas de segurança do último mês. Este episódio marca o tom de extremo capitalismo, onde as boas acções derivam de benefícios financeiros – pelo menos a maioria.

É neste contexto que decorre a contagem decrescente para a pena de morte de um assassino em série. A forma de morte vai ser decidida pela audiência, e em torno do momento monta-se um autêntico circo televisivo. No entanto, à última da hora, o assassino escapa. Este momento leva ao pico das audiências, mas parece demasiado bem acompanhado – os planos de filmagem, as sucessões, não parecem totalmente espontâneas.

Crítica

Rosko é um livro bastante mais movimentado do que é habitual em Zidrou. Existem algum espaço para caracterizar personagens, mas é reduzido ao máximo, dando-se primazia à acção e a momentos que ajudam a perceber como funciona aquela sociedade de aparências e interesses.

A história está carregada de acção, não permitindo grandes momentos de introspecção – um género de thriller, onde a maioria da história é passada na caça ao homem. Pelo caminho conhecemos rapidamente várias personagens, quase todas partilhando o mesmo tipo de valores. Destaca-se, de forma positiva, o homem que anos antes tinha apanhado o assassino, que parece ter a inteligência de perceber que se tratou de uma fuga montada.

A história prossegue com uma resolução ácida, alongando-se no final mais do que seria de esperar. As últimas páginas são anticlimáticas e revelam uma enorme falta de fé na humanidade, com uma carga de cinismo que, novamente, não é usual em Zidrou.

Talvez por causa do estilo narrativo (muito movimentado), o visual é menos detalhado, afastando-se do que costuma ser usual no francobelga. Encontramos, assim, textura simplificada, cores simples e sólidas, traço ligeiramente grosseiro.

Conclusão

Não esperem uma história sentimental e pausada como é habitual em Zidrou. Nesta narrativa quase todas as personagens são materialistas e egoístas, impregnando a história de um cinismo pouco usual. O ritmo é elevado e a caracterização da sociedade é interessante (semelhante à actual, com alguns elementos mais contrastantes), o desenho não é memorável, mas o resultado é uma boa leitura.