Este romance distópico e ligeiramente futurista usa a premissa política de Margaret Thatcher para criar um mundo invidualista ao extremo. A ideia é interessante ainda que a capa ligeiramente cómica faça uma combinação no mínimo estranha. As expectativas eram, portanto, mistas.

A história


I think we have gone through a period when too many children and people have been given to understand ‘I have a problem, it is the Government’s job to cope with it!’ or ‘I have a problem, I will go and get a grant to cope with it!’ ‘I am homeless, the Government must house me!’ and so they are casting their problems on society and who is society? There is no such thing! There are individual men and women and there are families and no government can do anything except through people and people look to themselves first.

Este discurso de Margaret Thatcher (do qual podem consultar um resumo aqui) é usado para criar uma … bem, ia dizer sociedade, mas neste caso não é uma sociedade, antes uma cidade composta por indivíduos demasiado focados em si próprios que executam trabalhos idiotas para tentar reduzir a sua dívida.

A história centra-se em Renee, uma mulher que nunca conheceu a mãe – abandonada em bebé para poder subsistir sozinha e fazer pelo próprio sustento, é criada por um robot. Agora vive num cubículo como tantos outros humanos, e sai todos os dias para realizar os mais estranhos trabalhos. A competição por estas ocupações é excessiva, e a cada dia a dívida cresce, apesar de passar todas as horas do dia a trabalhar.

Cada indivíduo está focado apenas em si próprio, sendo encorajado por meios informáticos ou por avatares, acreditando ser melhor do que os restantes em alguma coisa. Tudo está coberto de anúncios e cada pessoa possui um tipo de óculos que os impede de ver os restantes humanos.

Crítica

A história é simples, levando ao extremo o conceito de individualismo enquanto se centra num único indivíduo, Renee. É curta e rápida, usando os diálogos simples entre Renee e os seus avatares para diminuir a densidade do texto e apresentar uma prosa mais fluída. O desenvolvimento é contido até quase ao final, onde prossegue por rumos menos lineares e mais fantabulásticos.

O mundo apresentado é deprimente e deprimido, mostrando seres humanos doentes, sem ligação humana e fechados num ciclo infinito de dívida e trabalho onde até o ar é pago. Esta realidade terá avançado a partir da nossa com a aplicação da premissa de Thatcher, a eliminação de impostos e a consequente acumulação de riqueza por parte dos mais ricos.

Conclusão

Apesar dos momentos finais mais desalinhados, trata-se de uma leitura interessante e engraçada, com episódios curiosos pela forma como o indivudualismo é levado ao extremo. O desenvolvimento desta realidade é um exercício interessante que leva a elementos arrepiantes, ainda que esteja muito longe da claustrofobia que pode ser sentida nalguns clássicos distópicos.