
Recentemente, os livros de Madeline Miller foram publicados em Portugal, destacando-se das tradicionais histórias de mitologia e dos contos fantásticos, por pegarem nas personagens mitológicas gregas e conferir-lhes histórias muito próprias, com bastante personalidade. Mas Madeline Miller escreveu apenas três livros (A Canção de Aquiles, Circe e Galatea). Entretanto, Jennifer Saint usa uma fórmula semelhante para criar Ariadne, estando previstos mais dois livros da mesma autora: Elektra e Atalanta.
História
Ariadne é a filha de Minos, um rei déspota de Creta que governa por meio do terror, com a ajuda do seu temperamento, a ameaça do Minotauro e as invenções de Dédalo. Ariadne é uma jovem calma e adorável que ajuda a cuidar do seu irmão mais novo, o Minotauro, até este enveredar por se alimentar de humanos.
Como muitas princesas, a sua presença é minimizada pelo pai, vista apenas como uma forma de, no futuro, fazer aliança com algum rei distante. Quando Teseu chega, entre as oferenças humanas da cidade Atenas para o Minotauro, com intenções de conquistar o labirinto, Ariadne deixa-se encantar pelos olhos verdes e palavras justas e ajuda-o a troco de fugir com ele. Quase tudo se concretiza conforme planeado, mas Teseus acaba por abandonar Ariadne numa ilha isolada no meio do oceano.



Crítica
É impossível não comparar este volume com as histórias de Madeline Miller – dado que a própria sinopse inglesa nos remete para esta comparação. Há uma diferença fundamental entre as duas que, no meu entendimento, explica porque gostei menos do livro de Jennifer Saint. Como habitual resume-se à caracterização de personagens.
Neste tipo de histórias, o ambiente e a direcção global da história estão pré-determinados. O que pode ser verdadeiramente original é a forma como se caracterizam as personagens, o que confere uma nova dimensão à história. Madeline Miller fez isto com as suas personagens. Mas Jennifer Saint pega numa personagem que poderia ser interessante, e fá-la indefesa, amorfa e irrelevante para o seu próprio destino.
Em compensação, existem alguns capítulos focados na irmã de Ariadne, Fedra. Esta jovem demonstra um espírito bastante menos dócil. Também ela encantada por Teseu, acaba por se casar com o herói, descobrindo que é, na verdade, uma personagem egoísta e egocêntrica. Fedra aproveita então as fragilidades governtivas de Teseu para encontrar um lugar de maior destaque.
Para além da construção de personagens, a narrativa de Ariadne possui uma linha mais relaxada, com elementos menos úteis, fazendo com que a leitura seja, por vezes, menos interessante. Ainda assim é uma leitura fluída, onde as páginas se sucedem facilmente – neste caso, exactamente por ser pouco densa em acontecimentos.
A exploração da história da personagem principal (ou da Freda) não é o único elemento da narrativa. A autora usa a condição feminina e o papel de Dionísio para falar um pouco das limitações das mulheres em crescerem em tal sociedade. Este detalhe, também usado por Madeline Miller, aqui é menos intenso e, talvez por ter criado menos empatia comigo, menos impactante.
Conclusão
Ariadne é uma leitura agradável que segue um modelo semelhante ao das histórias de Madeline Miller. No entanto, Ariadne é uma personagem demasiado passiva, o que é compensado por alguns capítulos focados na prespectiva de Fedra. Apesar de ser um livro de leitura fácil de rápida, tem momentos menos interessantes e pouco úteis do ponto de vista narrativo.