Aspecto sombrio e premissa curiosa, esta série de banda desenhada da autoria de James Tynion V chamou-me à atenção. O autor foi o responsável por Something is Killing the Children, uma banda desenhada de horror que nos leva a um mundo onde os pesadelos das crianças se materializam em monstros horríveis. Tendo gostado desta banda desenhada, e ficando curiosa com The Department of Truth, resolvi-me a adquiri-la.
Nesta banda desenhada, um homem que persegue teorias da conspiração a vida inteira, descobre que a verdade é bastante mais complexa do que imaginava – até porque tudo é verdade e mentira ao mesmo tempo. No mundo apresentado em The Department of Truth, a força da imaginação e da crença podem provocar a materialização das ideias e mudar os acontecimentos passados, existindo uma organização que tem como objectivo controlar a propagação destas ideias. Como qualquer organização secreta, nem tudo o que fazem é eticamente simples.



De desenho e narrativa sombrios, The Department of Truth é simultaneamente deprimente e psicótico, levando-nos por uma possibilidade altamente desconfortante – as mais loucas teorias podem materializar-se se suficientes pessoas acreditarem nelas. Cabe ao departamento eliminar o resultado desta materialização, ou estimular outras teorias que possam ser mais facilmente controláveis. Num outro nível, podem distribuir determinadas ideias para que estas alterem a realidade.
Neste seguimento, The Department of Truth recorda o Something is Killing the Children, mas se este último é um livro bastante movimentado, com inúmeros confrontos com monstros que segue uma fórmula de narrativa de horror / terror, o Department of Truth é mais pausado, deambulando em ideias e teorias, apesar dos ocasionais episódios de acção.



Adicionalmente, o Department torna-se mais desconfortável na exploração das várias possibilidades e teorias da conspiração, demonstrando como a vida das pessoas pode ser destruída nestas crenças – seja porque viram algo que não deviam e a isso dedicam a vida, seja porque cruzam o seu caminho com estes agentes secretos e se acreditam loucos.
Noutra vertente, The department of truth recorda, também, o Mind MNGT de Matt Kindt – duas facções que se opõem na manipulação da realidade, derivando das suas acções grandes consequências para os comuns cidadãos. Em concretização as duas histórias vão apresentando paralelismos e divergências, por um lado mostrando que nenhum dos lados representa o mal ou bem absolutos, por outro, utilizando as suas particularidades para tecer uma teia cada vez mais entrelaçada.



The department of truth é, sobretudo, uma narrativa pausada e complexa. Começa como uma revelação de um departamento, prossegue para demonstrar que existe uma fracção opositora ainda mais secreta e arrepiante, e passa para apresentar exemplos reais que irão diminuir a diferença entre as duas fracções. Esta fórmula não é original, mas funciona bem, com a introdução de episódios exemplificativos.
De leitura pausada, The department of truth, é uma leitura interessante que explora uma premissa curiosa, ainda que não se torne muito envolvente. A caracterização de personagens não é muito profunda, fazendo com que estejamos a assistir ao desenrolar da história como meros espectadores. A vontade de prosseguir a leitura, advém da exploração das teorias da conspiração e da forma como se materializam ou são destruídas.



Concluindo, The department of truth cativa mais pelo desenvolvimento de ideias do que pelas personagens, apresentando-se como uma história de progressão lenta e densa. A noção de que uma ideia, partilhada por suficientes pessoas com suficiente força, se pode materializar é o elemento fundamental para o desenvolvimento narrativo. É também esta noção que, explorada em diferentes episódios e de diferentes formas, nos mantém a ler.



