Não me esqueças é um dos mais recentes lançamentos pela Asa. A editora optou por um formato de capa mole, com um tamanho de página inferior ao tradicional franco belga, diferenciando este lançamento dos que lhe são habituais.

Em Não me esqueças a história centra-se em Clémence e na sua avó. A avó, idosa, sofre de Alzheimer e, consequentemente, tem problemas em se recordar de quem é e de onde está. Clémence, filha de mãe solteira, foi criada fundamentalmente pela avó e não aguenta vê-la reclusa num lar. Decide-se, assim, a levá-la, às escondidas, numa longa viagem de carro, para ver a casa de infância, com o objectivo de fazê-la recordar-se de mais momentos.

A premissa de Não me Esqueças não é nova. Ou o foco no esquecimento que pode advir da velhice, nem o impacto que esse esquecimento pode ter nos familiares. Há vários livros abordando o tema, mas nem por isso este deixa de ter grande impacto. Tal com outras histórias que abordam este tema, Não me Esqueças é uma narrativa tocante e envolvente.

A história centra-se no ponto de vista da neta que acha que a avó pode vir a recordar-se melhor de algumas coisas para rever a casa de infância. O impulso de a levar a rever a casa de infância resulta da impotência sentida face à situação. A avó foge algumas vezes do lar, não se recordando de onde está, mas expressando uma urgência de não preocupar os pais que devem sentir a sua falta.

Clémence tem uma relação especial com a avó – relação essa que vai sendo exposta ao longo da viagem, enquanto reconta ou recorda momentos especiais entre as duas. Apesar da falta de memória geral, a viagem funciona como uma tentativa de solução, uma resposta à urgência da situação. Clémence, impulsiva, tenta, desta forma, retribuir o apoio que recebeu da avó, sentindo desta forma que está a fazer algo pela situação.

Enquanto a avó se recorda ou confunde a neta por outra pessoa, a narrativa explora, mais sucintamente, a relação que Clémence tem com a mãe. Trabalhadora e mãe solteira, médica reconhecida, a mãe é, parcialmente ausente. É esta ausência (ou aparente sentido prático em enfrentar os factos) que leva Clémence à indignação e ao sentimento de saber o que será melhor para a avó.

A viagem, pouco preparada e executada impulsivamente, não vai decorrer sem sobressaltos. Clémence nem sempre pensa em todas as consequências das suas acções e esses momentos hão-de ter impacto, não só nela própria como na avó. Alguns momentos irão ser desesperados, mirabolantes e irreflectidos.

Para além do sentido prático de achar que o rever a casa dos pais pode ajudar na memória, a viagem funciona, também como resistência à ordem imposta, como aventura, restabelecer de ligações e, claro, de recordações. Ainda que quem recorde não seja a pessoa pretendida.

O desenho expressa movimento quando necessário, deixando de fora palavras desnecessárias durante várias páginas. Mas também expressa os mais variados sentimentos. É um visual relativamente minimalista, mais focado nas personagens do que nas envolves, resumindo-se ao essencial em vários momentos mais movimentados. Por vezes, as personagens aparecem dissociadas do contexto.

O resultado é fabuloso, tocante e envolvente. O tema, apesar de já ter sido explorado em várias outras narrativas, funciona bem quando desenvolvido de forma correcta – o que é o caso deste livro. O visual integra-se na narrativa, proporcionando entendimento que, desta forma, deixa de ser necessário expressar em palavras. Uma leitura obrigatória, portanto.