Autor de inúmeros livros e organizador de várias antologias de ficção científica, Gerson Lodi-Ribeiro é um dos poucos escritores brasileiros com obra publicada em Portugal – O Vampiro de Nova Holanda e Outras Histórias (colecção Caminho) entre outros contos em antologias várias. Mas nas últimas duas décadas as cooperações com o Brasil parecem ter esmorecido e as obras de autores do outro lado do Oceano não chegam a Portugal.
Felizmente, algumas obras encontram-se publicadas na Amazon em formato digital, facilitando, se não a aquisição do formato físico, a leitura dos livros. Foi desta forma que li, há poucos meses Quando os humanos foram embora, e que peguei neste Simbiontes, pertencente à série de Space Opera, Aeternum Sidus Bellum. Ainda que faça parte de uma série, Simbiontes foi lido isoladamente, e não senti necessidade de outros enquadramentos para além dos presentes no livro, sendo uma história com final fechado.
A história leva-nos a um futuro distante em que a humanidade dominou as viagens interestelares e se encontra em Guerra com uma civilização imperial de características fisionómicas mais tentaculares. Esta guerra dura há algum tempo, havendo algumas civilizações alienígenas que se aliaram aos seres humanos.
O volume começa por nos apresentar o quotidiano a bordo de uma nave humana com uma missão curiosa, a captação de energia de um astro solar. A história alterna entre vários pontos de vista, alguns dentro da nave humana, outros do lado inimigo que estranha o desaparecimento do brilho de uma estrela. Esta alternância de perspectivas permite apresentar diferentes formas de pensar e de agir, fortalecidos por detalhes ocasionais sobre o que originou diferentes reacções e raciocínios (ou costumes).
Dentro da nave humana encontramos outras espécies com as quais os humanos convivem e se interligam. A história é, portanto, movimentada, sendo esta movimentação conferida pela alternância de perspectivas e pela componente bélica, resultado do confronto entre as duas facções.
A narrativa explora, portanto, num primeiro nível, as diferentes espécies, orientando a perspectiva em espécimes representativos que, pelas suas circunstâncias, apresentam alguns elementos que justificam os seus hábitos e costumes. Num segundo nível, apresentam-se as interacções e um pouco da história que relaciona as diferentes espécies, conferidos através de diálogos.
Mas a história vai para além desta componente, ao confrontar as duas espécies e ao fazer com que enfrentem as consequências de uma guerra secular – uma guerra que não só dizimou vários espécimes em ambas as facções como levou ambas as espécies a evoluir, social e tecnologicamente. A vontade de combater um inimigo dá ímpeto à necessidade de adaptação a novas circunstâncias e, consequentemente, de evolução.
Não estamos a falar de um livro pequeno. São mais de 300 páginas que se desenrolam a vários ritmos consoante a acção em que se focam, mas que, de forma genérica fluem bem. Novamente, a alternância entre perspectivas permite conferir algum dinamismo e os episódios de acção aceleram a leitura nalguns momentos.
Em termos de concretização, é uma leitura interessante, ainda que a maioria das espécies pareçam ter mecanismos de pensamento bastante colados aos dos humanos (ou pelo menos seguimentos lógicos), algo que já vimos noutras obras de Space Opera que apresentam espécies alienígenas e que aqui também está presente.
De forma sucinta, Simbiontes cumpre o prometido no género Space Opera bélica, com confrontos espaciais e perseguições mais planetárias, mas também com criação de uma cronologia e de uma história curiosa. Mas Simbiontes também ultrapassa essas expectativas ao apresentar uma espécie, fora do confronto, bastante superior em capacidades, e com particularidades que tornam a leitura mais intrigante e interessante. É, sem dúvida, uma série à qual devo voltar nos próximos tempos.


Obrigado pela resenha crítica generosa, Cristina!