Já contei este detalhe algumas vezes por aqui, mas aqui vai novamente. Aqui há um ano, mais coisa menos coisa, numa das minhas viagens regulares a Paris, deparei-me com este livro em qualquer sítio – desde lojas de especialidade a pequenas papelarias, este volume encontrava-se em destaque. Era para o ter adquirido, mas quando tive a coragem de o abrir achei que o nível necessário de francês deveria ser acima do que possuo. Felizmente, a Ala dos Livros anunciou o lançamento e eis que chegou cá a casa!

Este é um livro peculiar, estando entre a divulgação científica e a criação de sensibilidade ecológica. O volume começa por apresentar Jancovici, o fundador do The Shift Project, e a forma como o desenhador acabou por trabalhar com ele para a criação deste livro. Após esta curta introdução, as páginas prosseguem explicando como tudo depende da energia – a sua distribuição, utilização e produção.

Com base neste detalhe, os autores apresentam as diferenças na civilização humana ao longo dos séculos, em várias vertentes – desde o transporte aos alimentos consumidos, a concentração nas cidades, ou o estilo de vida consumista; demonstrando como a energia não é ilimitada e ter um sistema que se baseia nesse pressuposto nos pode levar por caminhos perigosos.

Mais do que isso. A abordagem é didática e relativamente simples, explicando com conceitos simples, como a evolução da civilização humana tem tido impacto no mundo que nos rodeia, mas também sugerindo algumas soluções. E sem condescendência para com os países em desenvolvimento, uma vertente que é muito importante no discurso.

Assim, são abordadas as diferenças que já se fazem sentir, com o clima cada vez mais imprevisível ou com oscilações mais drásticas e, consequentemente, catastróficas. Não é só uma questão de elevação de temperatura, mas de tempestades mais fortes e secas mais prolongadas que trazem consequências para a agricultura, mas também para o ar que respiramos.

A par com a forma didática de expor o problema, existem gráficos e esquemas que permitem perceber melhor os números, os factos ou as teorias. Não só. Apesar da seriedade do assunto, o livro apresenta alguns episódios ligeiramente cómicos, comparações exageradas com o intuito de aliviar o peso da progressão da leitura e que são bons momentos para realçar os pontos argumentativos mais relevantes.

A abordagem narrativa, a par com a visual, funciona bem para a compreensão dos temas, e para a exposição das possíveis soluções, propostas por Jancovici. Mas não existem fórmulas mágicas. A solução passa mais pelo ganho de consciência e pelo desenvolvimento de soluções de compromisso, pelo afastamento de soluções populistas que, apesar de politicamente mais fáceis de desenvolver, não têm os aspectos práticos necessários.

É preciso que nos afastemos dos pressupostos errados, dos mitos e das falácias, que servem de mote político para vários movimentos. E, segundo os autores, repensar soluções demonizadas, como a energia nuclear.

O Mundo Sem Fim é uma leitura essencial. Não só pela forma como sensibiliza e informa sobre as questões climáticas, mas também porque não fica pelas lamúrias e queixas, apresentando sugestões (que podemos ou não concordar), algumas delas diferentes ou desafiantes.