Eu, Assassino, Eu, louco e agora, Eu, Mentiroso. Cada um dos volumes se centra numa patologia, mostrando-nos pessoas de aparência quase normal, até socialmente bem vistas pelo seu estatuto e valor financeiro, enquanto enveredam por percursos cada vez mais extremos em comportamento, sem que tal seja acompanhado por consequências.
Neste caso, a narrativa centra-se num grupo de políticos espanhóis, com referências a vários partidos reais do país. Mais especificamente, a história apresenta um político ambicioso que se vai encontrando com parceiros e opositores políticos, tecendo o seu próprio caminho, entre mentiras, falsificações e, até, mortes.



A história apresenta uma perspectiva sobre alguns acontecimentos na política espanhola, transmitindo uma versão negra sobre os factos. A narrativa oscila entre elementos verosímeis e bastante realistas, com corrupção sistémica que se expressa em favores entre partidos e personalidades, jogos de influências e manipulação dos canais noticiosos; e elementos mais mirabolantes.
A visão dos autores é bastante cínica, com tramas levadas ao extremo, envolvendo assassinos em série e mortes estratégicas – mas no final, rodam as cadeiras e mantêm-se as mesmas forças e influências obscuras.



Em termos visuais, tal como os restantes da trilogia, Eu, Mentiroso, apresenta-se a preto e branco, com os eventuais verdes que destacam determinados elementos. O desenho revela uma expressividade pegajosa, uma crueza corrupta que emparelha bem com a execução narrativa.
Em suma, Eu, Mentiroso é mais uma boa leitura da dupla Altarriba e Keko, que se centra nas tramas políticas para demonstrar uma realidade corrupta – tal como foi já feito em outros volumes, revelando o conjunto uma visão global bastante negra da sociedade.



