Para além dos ocasionais volumes Mangá na colecção Novela Gráfica, a Levoir tem publicado algumas histórias num formato mais pequeno, tendo começado com as séries Os Três Mosqueteiros e 4Life. Mais recentemente, lançou duas histórias de volume único, Ningyo e Jizo. Se a série Os Três Mosqueteiros não pareceu corresponder às minhas expectativas (só li o primeiro volume), já este Jizo ultrapassou-as.

A história começa com um rapaz perdido, Aki, que procura a sua mãe. Deambula assim pela cidade, interagindo apenas com um outro rapaz que o tenta ajudar. Anoitecendo, pernoitam os dois num templo. Mas Aki resolve deambular durante anoite, encontrando uma bruxa que caça crianças para as aprisionar. É aqui, com a ajuda do outro rapaz, Jizo, que se apercebe que não consegue interagir com outras pessoas.

Aki, a criança que procura a mãe, oscila entre confiar em Jizo, e acusá-lo de ciúmes, ora confiando nos seus conselhos, ora afastando-se. Mas lentamente confronta-se com a sua própria realidade, tocando a narrativa um percurso mais sobrenatural, com detalhes que parecem um cruzamento entre a Baba Yaga e o tradicional japonês.

A narrativa é intrigante. O que se está a passar com a criança no início pareceu-me mais ou menos óbvio (até cliché) mas o desenvolvimento é peculiar e menos linear do que inicialmente esperado, com elementos surreais estranhos, que cruzam o fantástico com o horror. A complementar, os desenhos são expressivos e detalhados, com uma dimensão e dinâmica que ajudam no envolvimento da história.

Curiosamente, a história assume contornos mais positivos do que é habitual, se a compararmos com outras histórias que possuem crianças em contexto sobrenatural japonês. O desenrolar é peculiar e, de alguma forma, mais moral do que estou habituada para o género, com detalhes finais que me recordam mais histórias ocidentais.

Um cruzamento de elementos curioso que, de alguma forma proporcionou uma leitura agradável, com algumas surpresas, quer do ponto de vista narrativo, quer do ponto de vista visual. Em termos de edição, o formato é legível, ainda que o papel seja mais fino do que é habitual.