Eis uma daquelas histórias que sempre me intrigou. Transmitida oralmente pelo menos desde o século XI, foi registada por Alexandra Herculano em 1851, tornando-se essa a versão mais conhecida. É possível encontrar algumas variações, bem como lendas semelhantes, como Elva: A story of the dark ages, ou a Lenda de Marialva (adaptada para cinema por António de Macedo).

Mas foi a versão clássica, a de Alexandre Herculano que é aqui adaptada para banda desenhada por Manuel Morgado, começando por apresentar o encontro de D. Diogo Lopes com uma bela e misteriosa donzela que, referindo as suas nobres origens pretende que D. Diogo não volte a fazer o sinal da cruz. Vários anos mais tarde, e com dois filhos, D. Diogo vai, incautamente, fazer o gesto por reflexo, revelando-se nesse episódio a verdadeira natureza da donzela.

Esta história recorda-me as histórias das mouras encantadas, em que um cavaleiro se cruza com uma bela donzela ou outras histórias onde uma criatura sobrenatural se revela. A narrativa transforma-se neste caso, para revelar um género de bem Vs mal, representado pela Igreja Cristã Vs outras religiões, com detalhes sobrenaturais mais próximos de uma lógica cristã, com detalhes algo moralistas. Ainda que seja das minhas histórias populares favoritas, recordo-me de uma variante menos moralista. Esta, de Alexandre Herculano, evoluindo talvez por um cruzamento de mundos e de culturas, possui contornos de um ensinamento demasiado ligado à moral cristã.

Mas é esta versão, a mais conhecida e reconhecida, que é aqui adaptada, num trabalho notável de Manuel Morgado. O estilo reconhece-se, denso em cor e expressão, recordando outras obras do autor onde também a história decorre num ambiente medieval (ou fantástico de contorno medieval). A história permite que Manuel Morgado apresente confrontos de espada, armaduras e castelos, mas também criaturas sobrenaturais.

Trata-se de uma boa adaptação que é complementada por um dossier sobre Alexandre Herculano e a sua obra, não faltando, claro secções sobre A Lenda ou o contexto histórico. Apesar do texto original (de estrutura e termos mais antigos), a história respira, existindo espaço para se focar nos episódios de maior acção, e, desta forma, facilitar a compreensão dos acontecimentos.