Sol é um dos mais recentes volumes de autoria portuguesa lançados pela parceria ComicHeart / A Seita. A sinopse promete ficção científica num futuro distante. Antes de falar do livro, deixo-vos o book trailer
Efectivamente, Sol leva-nos a um futuro distante em que a humanidade já terá colonizado outros planetas. Alguns pelo interesse em minerar, outros para fundar novas sociedades. Como noutras narrativas do género onde a acção decorre vários séculos no futuro, a sociedade que nos é apresentada é controlada por companhias, o que neste caso se reflecte na divisão da população de acordo com as camadas financeiras.
Num dos planetas colonizados, uma estranha e mortal doença começa a atacar alguns dos colonos. Mas apenas os mais ricos têm acesso ao medicamento que elimina a maleita. Uma jovem, de nome Sol, filha de um falecido cientista, impulsionada por um rumor e tendo em vista salvar a mãe, dirige-se ao planeta que outrora terá sido usado para mineração com vista a tentar descobrir uma planta que será a origem do medicamento. Entre interesses económicos, planos maquiavélicos e ajudas locais, Sol irá desafiar a ordem daquela sociedade para obter o medicamento que poderá salvar a mãe.



Sol é, sobretudo, um livro de acção. A história é composta por sucessivos episódios de confrontos que proporcionam alguma velocidade na leitura. A chegada de Sol àquele planeta não será pacífico, mas rapidamente se verá em situação de fuga das autoridades, o que leva a que os locais a ajudem. A história apresenta pitadas de tecnologia avançada, apenas a suficiente para justificar as reviravoltas narrativas, sem grandes deslumbramentos nessa componente.
A caracterização do ambiente faz-se cruzando elementos comuns a outras obras de ficção científica, usando alguns clichés do género, e pequenos detalhes que vão sendo apresentados ao longo da narrativa. Existem camadas sociais caracterizadas por diferentes possibilidades financeiras, e, consequentemente, uma parte da população é ignorada, deixada em condições miseráveis.



Em termos de personagens e sua caracterização, existem algumas componentes um pouco naive, como o encontro que Sol tem com o “vilão mor”, que é demasiado absoluto na sua expressão verbal e comportamento. Ultrapassando esta vertente, Sol é um livro carregamento de acção e reviravoltas, num mundo de pequenos detalhes peculiares, que pode ser comparado a vários momentos da história da humanidade. Esgotados os recursos naturais numa determinada região, as populações locais são deixadas ao abandono, em situações adversas.
Já o mundo onde Sol cresceu, sendo uma continuidade deste, possui uma aura distópica, com uma evidente separação de acordo com a capacidade financeira, remetendo para uma autoridade opressiva, cega a injustiças, e mais focada na manutenção de um status quo do que na manutenção do bem estar de toda a sociedade.



O resultado é um trabalho de alguma complexidade, principalmente se o compararmos com o contexto editorial português, destacando-se quer pelo tamanho (quase 150 páginas) quer pelos temas abordados (ficção científica num futuro distante) e pelo visual, onde, aproveitando o tema, o autor cria fortes cenários.
