O primeiro volume de Macho-Alfa foi lançado em 2021 e à época achei uma genial perversão dos super-heróis, com um peculiar humor onde eram usados os elementos típicos mas suvertidos. No segundo volume, o super-herói é levado a tribunal e responsabilizado pelos danos causados durante as suas missões. O terceiro chegou no último Amadora BD e consegue não só surpreender, mas garantir o lugar no pódio como uma das melhores séries de BD portuguesas. Pelo menos para mim.
A série começou por apresentar um típico herói com poderes sobrenaturais que os usa em missões estrondosas. Tal como nos filmes de super-heróis, após uma batalha, os estragos são imensos e é de questionar se, em última análise, as acções do super-herói não foram, sobretudo, danosas. Após o julgamento, o super-herói que aqui é a personagem principal, vê-se proibido por tribunal de usar os seus poderes.



O super-herói, apercebe-se, lentamente, que o bem que julga fazer não é assim tanto e que afinal não é a personagem adorada que crê ser. Tal impacto na percepção que tem de si próprio tem, claro, impacto psicológico. Caído em desgraça, desgastado pelo imenso auto-controlo que precisa exercer para não destruir tudo à sua volta, o herói amargurado recorre a sessões terapêuticas para conseguir dormir e relaxar. Mas claro que estas sessões, gratuitas, não serão tão inocentes e positivas como esperaria.
Apesar de começar como uma genial perversão do conceito de super-herói, com pequenos detalhes caricaturescos da sociedade portuguesa, a série vai evoluindo em tom e detalhes, transformando-se numa reinterpretação do conceito de super-herói que consegue surpreender e envolver, apesar de ser um sub-género já muito explorado.



A história encontra-se carregada de acção, mas nem toda corresponde a violência ou batalhas mirabolantes. O que vai acontecendo às personagens é interessante e retratado com contenção, mostrando-se apenas os episódios que são, de alguma forma, essenciais ao enredo e à compreensão das circunstâncias. A abordagem é planeada de forma inteligente, revelando calma e contenção no desenvolvimento e nas reviravoltas, tornando-se, até agora, numa série sólida e bastante aconselhável.
