A dupla Ed Brubaker e Sean Phillips criou algumas das minhas séries de banda desenhada favoritas, como Fatale, Criminal ou The Fade Out e tinha, claro, grandes expectativas para esta série Reckless, que comecei a ler em 2021. Diria que algumas expectativas foram cumpridas – a série tem momentos muito bons, mas parece ter perdido algum fulgor nalguns episódios. Sobretudo neste volume que parece ser o último.

As histórias de Reckless centram-se em Ethan, um ex-agente do FBI que investiga casos por conta própria, nos limites da legalidade. São, quase sempre, casos de amigos e conhecidos que, por alguma razão, não podem ou não são investigados pela polícia, havendo necessidade de uma solução mais clandestina, mas eficaz. Claro que a excepção faz a regra, e no volume anterior, assistimos a um caso protagonizado por Anna, a amiga de Ethan que o ajuda com o cinema.

Não se tratam, no entanto, de casos pacíficos. Ethan fez algumas missões à paisana, significando que está habituado a agir fora dos limites da lei, iniciando confrontos físicos violentos, e optando, por vezes, por partir para a violência. Ethan apresenta-se como destrutivo, por vezes roçando o auto-destrutivo, sobretudo quando presencia situações de tráfico humano.

Este caso começa como tantos outros. Um amigo aproxima-se para lhe pedir ajuda, referindo a nora desaparecida. Dado o passado problemático o desaparecimento não foi investigado pela polícia, deixando o filho aflito. Ethan aceita o caso, mas o que descobre não é usual episódio de dama em apuros. Muito pelo contrário.

Na maioria das histórias da dupla sentimos uma tensão narrativa, acompanhada pela inevitabilidade dos acontecimentos. Nesta história senti mais o força da sucessão de acontecimentos do que a tensão. Os episódios são acompanhados por um narrador que, nitidamente, revê o passado, deixando algumas pistas para o que vai acontecer, o que lhe confere a tal inevitabilidade.

Mas faltou a tensão e a expectativa. Sente-se, ao longo do volume, que a missão de Ethan está a chegar ao fim, e que algo nesta história vai quebrar com o ciclo, transformando o lado violento de Ethan. O desenvolvimento é mais lento. As surpresas menos comuns e, sem a usual reviravolta inesperada. O trabalho de investigação é, também, mais resumido, até apressado.

Não que seja propriamente uma má leitura. Pelo contrário. Mas não achei este volume ao nível dos anteriores, ou ao nível das restantes séries da dupla. Ainda assim é uma boa leitura de detectives hard-boiled, mesmo mostrando um Ethan mais domesticado.