Um dos livros mais esperados de 2024 e, no final, considerado como uma das melhores leituras de 2024 por muitas páginas conceituadas de ficção especulativa (e até nomeado para o prémio Nebula), The Book of Love é um livro pouco linear com forte componente fantástica (mais sobrenatural) que tem momentos bastante fortes e outros extremamente estranhos. No final, não o considero como uma das melhores leituras mas é, no mínimo, uma história peculiar.

A história apresenta-nos três adolescentes que, de alguma forma, desapareceram e retornaram à vida seis meses depois. Nem o seu desaparecimento nem o seu retorno foram normais. Tendo cruzado o caminho de uma Deusa que procura recuperar o seu poder, foram colocados durante os seis meses num mundo sombrio, controlado por uma entidade outrora humana, que é capaz de manipular a magia. O retorno à vida destes jovens é feito usando uma forte componente mágica (para refazer os seus corpos) mas tem um objectivo por detrás – objectivo este que desconhecem.

Durante os seis meses as respectivas famílias fizeram o luto aos jovens. O seu retorno é acompanhado por uma mudança nas suas memórias – os jovens teriam estado fora do país com uma bolsa de estudo. Ainda que a narrativa tenha mudado existem sentimentos e estados de espírito que se irão manter, influenciando os relacionamentos.

Mas os jovens não estão sozinhos. Sabem que têm uma missão e que tal determinará a sua permanência neste mundo. Sabem também que estes não são os seus verdadeiros corpos e que agora serão capaz de fazer magia – uma capacidade que devem aprender e desenvolver. Mas tal como eles estão agora neste mundo, as entidades associadas à Deusa vigiam-nos e guiam-nos de uma forma estranha, até arrepiante.

A magia que aqui existe tem uma forte componente sobrenatural e até arrepiante. As entidades que a usam foram nitidamente corrompidas e mudadas pelos seus papéis e esse é o caminho possível para os jovens que agora fazem parte de uma missão que desconhecem. As interacções são, também, arrepiantes, ainda que não necessariamente de terror ou horror. Cada um deles tem alguém na sua vida para os suportar e alegrar, mas todos vão tomando decisões idiotas e irresponsáveis.

Os três jovens são peculiares. Os seus feitios são bastante diferentes e não são facilmente percebidos pelo leitor. Ainda que possuam alguns elementos fáceis de empatizar, nenhum me cativou facilmente. São adolescentes, tomam más decisões, mas acima de tudo, parecem nunca se arrepender de nada do que fizeram ou disseram, por mais que isso magoe os que os rodeiam.

As restantes personagens não são melhores nesse aspecto. Algumas parecem unidimensionais, obcecadas com algo, de tal forma que parecem não ver mais nada. Tudo o resto que fazem é superficial ou passageiro, e, ainda que, por vezes, se afastem do seu percurso ligeiramente, não convencem totalmente. São, tal como os três adolescentes, personagens psicologicamente danificadas.

The Book of Love é um livro estranho. Apresenta episódios intrigantes, baseados em personagens ligeiramente irritantes (e por vezes pouco compreensíveis) mas que de alguma forma cria curiosidade pelo que afinal se está a passar. A magia tem um preço e é usada de forma esquisita, o que ajuda a criar a aura de (repetindo novamente a palavra) estranheza. Foi, por esse motivo, uma leitura que custou a entrar e que até fluiu a partir do momento em que se entranhou. Ainda assim, cheguei ao final com a impressão de ser um livro marcante mas não cativante.