Este é daqueles títulos a que me é difícil resistir. O título e a descrição auspiciam algo divertido ou irónico e na realidade a expectativa não falhou. Sem ser uma obra prima entrega aquilo a que se propõe e diria que o grande defeito da história é não terminar neste volume. Pois é, trata-se de uma duologia e não havia nada que indicasse que a história não terminava aqui. É que nem sequer tem um final temporário, acabando com um cliffhanger.

A história apresenta-nos Davi, uma humana que parece vinda da nossa realidade e que acorda num reino fantástico. É prontamente direccionada por um mago que lhe diz ser a heroína que irá salvar os humanos de uma horda de criaturas, comandada por um Dark Lord. Cada vez que morre com os seus feitos heróicos (ou por mero acaso) Davi acorda na mesma situação. Existem vidas mais longas e outras mais curtas, mas de alguma forma cada vez que morre, acorda no mesmo local.

Várias vidas depois, Davi está farta de morrer torturada pelos diferentes Dark Lord que aparecem, e resolve mudar de estratégia. Porque não tornar-se ela o próximo Dark Lord? Sempre será uma linha de acção mais segura. Ou pelo menos diferente. Mas como conseguirá um ser humano convencer hordas de criaturas diversas a segui-la?

A narrativa cumpre a expectativa divertida, com sucessões de toques irónicos, onde a personagem brinca com a sua própria situação. O humor não é, no entanto, tão apurado quanto o de Terry Pratchett ou de Jonathan L. Howard (em Johannes Cabal), ainda que divirta. Davi é uma personagem peculiar e desinibida, que se vai envolvendo com qualquer entidade que mexa e seja capaz de ter sexo – seja feminino, seja masculino. Estes episódios acontecem tal como os de acção, sem grande detalhe e sem apresentarem uma componente romântica, fazendo parte das reviravoltas da narrativa.

O enquadramento é fantástico. Davi encontra-se num mundo onde existem humanos com uma capacidade de civilização que corresponderia à Idade Medieval, mas onde é possível fazer magia, com base em elementos de diferentes cores. Enquanto que os humanos se reproduzem como conhecemos, as criaturas mágicas precisam destes elementos para se reproduzir – sendo escassos, são um factor de controlo de natalidade nas restantes criaturas.

As criaturas mágicas são diversas. Existem algumas que são reconhecíveis de outras realidades fantásticas, como Orcs, e outras que não possuem propriamente um nome, mas que o autor vai apresentando. Por vezes, Davi refere-se a algumas criaturas com nomes que são do nosso mundo e nitidamente desconhecidos dos que a rodeiam. Aliás, o mesmo se aplica a outras frases que Davi profere.

How to become the Dark Lord and drie trying é uma leitura leve e divertida que aconselho a quem goste da mistura de elementos fantásticos tradicionais com humor. O mundo é simples, os elementos mágicos são escassos (mas q.b.) e a narrativa acaba por se destacar pela forma como Davi desempenha com mestria o papel de Senhor do Mal através das duplas e triplas traições. Ainda assim, como chefe da sua horda expressa empatia e capacidade de liderança pelo exemplo, sem cortar cabeças a torto e a direito.

Ainda que a história não termine neste primeiro volume, é uma leitura aconselhável a quem goste do género e pretenda algo mais relaxado e divertido, com pitadas de humor – ainda que algumas piadas se repitam um pouco, o resultado global corresponde ao esperado.