Um dos mais recentes lançamentos da Ala dos Livros é um livro de aspecto curioso que tem como personagem principal, um farol, mais precisamente Ar-men, o farol mais exposto e de mais difícil acesso da Bretanha ou do mundo, também conhecido como o Inferno dos Infernos.

A história apresenta-nos Germain, um dos faroleiros que vai vivendo, alternadamente com outro, neste farol, mostrando como é difícil a rendição, onde não existe propriamente um atracar do barco para se conseguir subir a bordo. Entre a solidão e as suas memórias, assistimos também às duras tempestades que assolam a localização, e fazem temer pela continuidade da construção.

É um destes eventos tenebrosos que leva a a história a focar-se na construção do farol, numa localidade extremamente pobre que subsistia dos naufrágios dos navios, captando o conteúdo das embarcações que se afundavam. O projecto, além de ser mal recebido pelos locais, não é fácil de por em prática por conta das condições marítimas, que desafiam (e até fazem reiniciar) os esforços.

As páginas oscilam entre várias histórias. Por um lado, claro, a do farol Ar-men, mas também a dos homens que ousaram sonhar com a sua construção, ou a dos homens que enfrentam a solidão (e os seus próprios fantasmas) para manter o farol funcional. As diferentes perspectivas permitem construir uma percepção mais global da história dos faróis.

Ainda que se foque, por vezes, nas perspectivas mais pessoais de personagens chave, a narrativa nunca chega a ser muito envolvente nem excepcional. Mas também não me parece que seja esse o objectivo deste livro. A par com os diferentes aspectos do Ar-men, as páginas aproveitam os diferentes episódios para apresentar páginas visualmente avassaladoras.

Ar-men é um volume visualmente poderoso e carregado de introspecções que ganha interesse sobretudo pelos vários aspectos que vai desenvolvendo sobre Ar-men, não só pela dureza em construi-lo, mas em mantê-lo, incidindo também na evolução dos faróis e na sua independência dos faroleiros.