Comecei a ler recentemente Fairy Tail, sem me ter apercebido que outra série do mesmo autor estava a ser lançada em português – Edens Zero. Se Fairy Tail apresenta uma premissa tipicamente fantástica com um grupo de amigos que se juntam para desempenhar missões num Universo carregado de elementos fantásticos reconhecíveis, Edens Zero faz algo semelhante, mas num contexto de ficção científica, usando clichés e transformando-os numa narrativa simultaneamente, provocante, divertida e inteligente, que pega em temas difíceis e os apresenta numa perspectiva mais leve.

A história começa por nos apresentar um Mundo habitado por robots que faziam parte de um parque de diversões à escala planetária. Mas estes robots parecem ter características mentais um pouco mais avançadas do que aqueles que conhecemos, capazes de empatia e sentimentos. Tendo o principal robot adoptado um rapaz e deixado de funcionar, os restantes interagem com o rapaz fazendo com que o seu quotidiano seja feliz.

Um dia, uma b-cuber (o equivalente a uma youtuber) resolve explorar o planeta e encontra o rapaz. Não havendo outros seres humanos no planeta, os robots tecem um plano para fazer com que o rapaz os deixe e parta em aventuras, com o objectivo principal de fazer novos amigos.

As semelhanças entre Fairy Tail e Edens Zero não se ficam pela abordagem narrativa. As personagens principais são relativamente semelhantes. O rapaz apresenta uma força insuspeita que o distingue em qualquer combate, enquanto a rapariga tem um papel tem outras capacidades. Em ambas as narrativas há um gato, uma personagem secundária que vai proporcionando interacções mais engraçadas.

Felizmente, também há diferenças. Ainda que as três personagens fundamentais possam apresentar semelhanças na dinâmica, também há divergências, sobretudo na caracterização. O rapaz em Fairy Tail é mais maduro, enquanto que em Edens Zero é bastante ingénuo. Já a rapariga, que em Fairy Tail contribui de forma bastante evidente nas missões tanto com os seus poderes peculiares como com as capacidades mentais, em Edens Zero é mais acessória nas interacções, ocupando um papel mais cliché em que até precisa de salvamento.

Em ambas as séries, outras personagens se juntam ao grupo, proporcionando a possibilidade de desenvolverem missões mais complexas e justificando a apresentação de diferentes poderes, capacidades e enquadramentos. Com o passar dos volumes, as séries vão divergindo e apresentando diferentes tons narrativos.

Em Edens Zero o grupo tem a missão global de encontrar uma entidade mítica – objectivo que justifica a exploração de vários planetas, ao mesmo tempo que procuram elementos específicos para juntar ao seu grupo. Pelo caminho deparam-se com piratas espaciais e déspotas, ora se desenvolvendo batalhas complexas, ora tecendo complexos planos para combaterem governos corruptos.

Entre os episódios de acção intensa e aventura, existem também momentos de humor, usando elementos tecnologicamente avançados, confrontos de culturas ou personagens caricatas que apresentam características pouco aconselháveis. O autor exagera alguns elementos para os tornar cómicos e absurdos, ao mesmo tempo que apresenta temas complexos como escravidão e objectificação das mulheres.

Até agora, a série tem proporcionado bons momentos de leitura e ainda que não apresenta uma complexidade elevada, é divertida e fluída. Não esperem uma obra prima, mas uma série ligeira que por vezes surpreende pela forma como pega nalguns temas correntes.