Nomeado para dois prémios YA (bem como para o Hugo e outros prémios mais associados a Fantasia), Uma Educação Mortal é o primeiro volume de uma série fantástica que pode ser enquadrada na recente onda de Dark Academia. Trata-se de um lançamento inesperado no mercado português, publicado pela Kathartika.

A história apresenta uma escola para adolescentes mágicos, uma espécie de internado mas que difere de outras séries com premissas semelhantes, por não ter propriamente professores, havendo uma elevada probabilidade de se morrer durante a estadia – ainda assim, menor do que fora das aulas, que costuma rondar os 60%. Depois de ingressarem na escola, cada aluna deve sobreviver, aprendendo magia e estabelecendo alianças com outros colegas.

Galadriel é a personagem principal, uma adolescente sarcástica e mal humorada com afinidade para a magia que está associada à destruição e à morte. Felizmente, a forma como foi educada pela mãe, leva-a a evitar o aspecto assassino da sua afinidade. Quando, no seu quarto, é salva pelo herói da escola, Orion, Galadriel reage de forma oposta ao esperado, afastando-o ao invés de o bajular. Esta alteração ao padrão esperado por Orion leva-o, primeiro, a desconfiar da possível negritude de Galadriel, mas depois a procurar a sua companhia, sobretudo pela honestidade e frontalidade que encontra.

Mas o foco encontra-se, sobretudo, na sobrevivência na escola. Os monstros, atraídos pela magia, populam a cada esquina (por vezes, ralo, por vezes, atrás de um bolo) e vamos percebendo com Galadriel que tomar banho não é uma opção muito saudável nestas instalações – tal como andar sozinho em locais que seriam banais, como uma biblioteca ou uma oficina.

No caso de Galadriel, as alianças são poucas. A sua mãe nunca esteve num conclave de mágicos, apesar de ser reconhecida no meio. Por outro lado, a sua apetência para a magia negra e a sua abordagem pessimista em qualquer interacção fazem com que possa, pontualmente almoçar com alguém, mas não é uma adolescente socialmente reconhecida.

O início da história é abrupto e pouco condescendente para com o leitor. Existem poucas explicações sobre o que se está a passar, e o leitor deve introduzir-se no nesta realidade rapidamente, depreendendo detalhes através da visão e das memórias de Galadriel. É neste recordar que se encontram, por vezes, demasiadas explicações e detalhes, que justificam a forma de ser de Galadriel (e talvez potenciem alguma empatia) mas que, por vezes, não acrescentam muito à história.

Confrontando as personalidades distintas de Galadriel e Orion, percebemos que a realidade na escola não é igual para todos. Orion vem de um dos mais poderosos conclaves do Mundo, carregando consigo uma série de objectos que permitem proteger-se, ao mesmo tempo que tem acesso a um armazenamento enorme de Mana. Ainda que Orion seja bem intencionado (salvando indiscriminadamente qualquer outro aluno) Galadriel vai confrontá-lo e torná-lo consciente do privilégio em que cresceu.

O confronto de perspectivas vai para além dessa componente. Na escola existem diversos grupos de alunos com as mais diferentes origens, associando-se muitas vezes por idioma, o que possibilita que troquem truques de magia que só podem ser proferidos em determinada língua. O confronto cultural é, pois, perceptível e abordado.

A escola, que parece ter sido influenciada pela lenda de uma escola de magia negra na Transylvania (da qual deriva o nome, Scholomance) apresenta uma espécie de consciência dúbia – parece ter os seus próprios propósitos, não salvando alunos, mas fornecendo objectos e condições variáveis, por vezes, idiotas, mas noutras curiosas pelo seu valor. Esta semi consciência que ora parece ser aleatória, ora intencional, é um dos detalhes menos consistentes ao longo do livro (existem outros) mas a rapidez com que a acção se desenvolve, com algum sentido de urgência (bem medido) faz com que o leitor prossiga.

Uma educação mortal não é uma leitura perfeita (algumas inconsistências, algum centralismo exagerado na personagem principal) mas destaca-se das usuais histórias mágicas em ambiente escolar, pela apresentação de um ambiente tenebroso e um humor negro e perspicaz. Apesar de haver um toque de romance, o drama está mais em tentar sobreviver do que em namorar. Até porque distracções são mortais.