
Este volume, publicado em Portugal pela Sextante Editora traz-nos um clássico infantil alemão de 1971, que já foi galardoado com vários prémios e adaptado para cinema. Desconhecendo o que ia ler, o resultado foi curioso.
A história
Um rapaz, órfão de pais, deambula de terra em terra com outras duas crianças. Até ao dia em que acha melhor abandonar os seus parceiros de encenação. Esfomeado, acaba por encontrar guarida num velho moinho e por aceitar as condições propostas pelo moleiro.
A comida não escasseia, mas aquilo que poderia ser uma forma de ter sempre a barriga cheia revala-se uma ocupação de contornos obscuros. Tal como ele, outros rapazes são aprendizes de moleiro mas o ambiente é soturno . Com o passar do tempo, também o rapaz (de nome Krabat) perceberá que é aprendiz de feiticeiro, além de moleiro. Neste caso em específico, a magia praticada é negra e tem os seus custos.
Crítica
O contexto é de fome e guerra, mas o foco é na criança órfã que se vê como aprendiz de feiticeiro, sem fuga nem futuro. O trabalho é pesado, mas ao menos a comida é bem distribuída e permite a sobrevivência. Ainda assim, os rapazes tentam fugir (sem sucesso) ou aspiram à libertação. Mas sem o comentarem. As palavras não são incentivadas.
Apesar de existir um contexto de magia negra que estará associada ao diabo (ou assim se depreende), este contexto não é desprovido de regras. O moleiro não é a entidade mais poderosa (ainda que o pareça de início) e também o moleiro tem de obedecer à autoridade de terceiros.
Não existe, no entanto, uma lógica para alguns acontecimentos. Simplesmente ocorrem. Rapazes de bom coração morrem e a libertação advém de algo que não tem nada a ver com bondade ou persistência. O mau confunde-se com o bom e em ambas as vertentes existem aspectos negativos ou positivos. Também o moleiro feiticeiro chora e se arrepende de alguns acontecimentos, mas, endurecido pela vida, faz sentir a sua vontade nos jovens aprendizes.
Por outro lado, e apesar de apresentar magia negra, não é uma história que apresente, explicitamente horrores. Estes ficam para serem entendidos nas nuances de alguns detalhes, havendo um sentimento de desconforto com algumas das descobertas de Krabat.
Conclusão
Krabat é uma leitura infantil que pode ser lida por adultos sem problema. Diria até que, hoje em dia, a história já não seria considerada tão infantil, não seguindo padrões de lógica e moralidade que sejam absolutos e reconhecíveis. É suficientemente interessante para manter a leitura, sobretudo por alguns acontecimentos dúbios.