IMG_5210

Com alguns adquiridos em segunda mão, outros em promoção, o conjunto desta semana tem especial destaque para o segundo volume de Saga pela G Floy – finalmente vou poder continuar esta série fantástica e desesperar então pelo terceiro:

Dois soldados de lados opostos de um imenso conflito apaixonam-se, e correm o maior dos riscos: criar uma nova vida, que vai constituir uma ameaça tremenda à narrativa belicista de uma galáxia em guerra. Hazel, a recém-nascida filha de Alana e Marko, já sobreviveu a assassinos a soldo, exércitos em batalha e monstros terríveis, mas, no vácuo gelado do espaço, irá encontrar um desafio bem diferente… os seus avós.

IMG_5228

Vencedor do prémio Nobel de 1961, Ivo Andric é o autor de O Pátio Maldito. Lançado em português pela Cavalo de Ferro, parece uma leitura interessante para os próximos dias:

 Frei Petar, monge bósnio cristão, é preso por engano e encarcerado na prisão de pior reputação duma Istambul, então Constantinopla, capital do Império Otomano: «O pátio maldito». Nesta, cruzam-se assassínos, violadores, assaltantes, conspiradores, mas também inocentes e falsos acusados de todas as classes e religiões, cada qual com um percurso, uma história e várias mentiras.

No «pátio maldito», o frade vai conhecendo as histórias dos seus companheiros de infortunio. A sua voz vai-se diluíndo nos muitos relatos dos outros prisioneiros até desaparecer entre as diversas histórias que ouve, as mentiras que cada um inventa e as diferentes noções de justiça e de realidade… Entre ódios e recordações vão-se misturando presente e passado, realidade e ficção, numa história de histórias.

Uma notável metáfora sobre a harmonia entre os homens em condições adversas. Andric descreve os processos pelos quais a História se entranha na vida dos indivíduos e neles se reflete, num eterno jogo entre o particular e o universal, ao mesmo tempo que põe a nu a raiz dos conflitos que têm assolado os Balcãs ao longo dos séculos.

IMG_4864

Já o da direita, Uma Ilha na Lua, promete não ser uma leitura pacífica:

Texto em prosa, esta farsa inclassificável de Blake, Uma Ilha Na Lua, escarnece da pretensão científica. Uma Ilha Na Lua é uma obra inacabada e incompleta, constituída por um conjunto de diálogos e canções sem um nexo óbvio, a não ser o facto de constituírem paródias da conversação de homens e mulheres burgueses nos serões literários e musicais dos círculos londrinos frequentados por William Blake na penúltima década do século XVIII. Nas conversas e canções afloram temas como a educação da criança,  a ciência moderna, as relações entre sexos, a moda ou a religião. Através de um grupo singular de habitantes da lua, cujos nomes alegóricos tipificam as personagens, são postas em cena, por vezes de forma absurda, um conjunto de práticas artísticas, educativas, religiosas e científicas.

Trata-se, de certo modo, de um talk-show do século XVIII, em que a conversação pública tem lugar nos salões polidos onde a burguesia pratica a troca de ideias. No texto de Blake surgem lado a lado o laboratório químico, o púlpito, a sala de aula e a sala de estar, numa espécie de zapping sobre os tópicos de conversa que faziam a agenda do dia. As personagens incluem filósofos, matemáticos, arqueólogos, cirurgiões, químicos. Fazem-se experiências, especula-se, bebe-se e canta-se.

IMG_5242

E porque um Nobel nunca vem só, eis Estrela Errante de J.M.G.Le Clézio, acompanhado por Bestiário de Julio Córtazar:

Volume composto por oito famosos contos, publicado originalmente em 1951, “Bestiário” de Julio Cortázar é um dos marcos da carreira deste autor e da moderna literatura.

Animais invisíveis, como o tigre do conto que dá título ao volume, que se desloca a seu bel-prazer pelos quartos de uma casa, obrigando a família que ali vive a mil cuidados e precauções a fim de evitar encontros indesejados; animais imaginários, como as “mancúspias” que anunciam as fases da Cefaleia; animais que despontam do nada, como os coelhinhos da “Carta a uma rapariga em Paris”; ou outros ainda subjugados ao poder de feitiçarias arcaicas que ganham novas formas e sentidos em “Circe”, todos eles compõem este bestiário fantástico de Julio Cortázar, no qual a descrição realista de atmosferas familiares faz luz sobre a vida secreta de uma sociedade povoada por tensões misteriosas e irracionais.

IMG_4874

Eis por sua vez, Bestas de Lugar Nenhum de Uzodinma Iweala e Tratado da vida sóbria de Alvise Conaro, o primeiro sobre guerras que envolvem crianças, o segundo uma visão interessante do efeito do meio na saúde. Eis parte da sinopse:

O seu Tratado da Vida Sóbria – uma das mais famosas autobiografias da Renascença – continua a pôr em causa a corporação médica mundial, por esta se ter esquecido da base biológica que rege o corpo humano a partir da escolha dos alimentos, da sua qualidade e, sobretudo, da justa medida de calorias necessárias a cada pessoa, individualmente, pois todos os estudos mais ou menos científicos apontam o excesso (ou a carência) como principal causa de disfunções graves.

Este livro é também anticonsumo, anticapitalista, um hino à alegria de viver com saúde e, acima de tudo, um sério aviso àqueles que se submetem cegamente aos poderes da medicina, depois manipulados e explorados de acordo com os interesses dos consultórios e das multinacionais que fabricam os medicamentos.

IMG_5226

Finalmente, estes dois livros de aspecto sombrio são os dois últimos volumes da colecção Novela Gráfica, lançada pela Levoir com o Público.