Aqui está uma boa leitura mas, sobre a qual, não me foi fácil começar a escrever. História forte, contada em tom pausado sob a forma de relatos ou entrevistas, centra-se numa banda de folk inglesa que terá tido o seu auge interrompido de forma misteriosa – de tal forma que o último álbum nunca terá sido gravado em estúdio e contem as versões dos ensaios gerais, alguns ao ar livre.
Logo no início percebemos que a banda está a ultrapassar um período difícil, com a morte de um dos elementos, um escândalo abafado pelo manager. Entre o consumo de drogas (usual naquele meio artístico) e o assédio dos fãs, o manager decide-se a alugar uma casa longe da cidade, para a produção do album seguinte, e que haveria de ser, também, o último, com o mesmo nome da mansão alugada.
Como o título indica, a história centra-se no período Wylding Hall da banda, seja em referência à mansão, seja em referência ao próprio álbum, constituindo a casa quase uma personagem por si só. Construída em camadas ao longo dos tempos, a casa tornou-se num extenso labirinto que esconde vários e inquietantes segredos, lembrando por diversas vezes, a casa do famoso livro fantástico Little, Big de John Crowley.
Mas se em Little, Big os habitantes quase faziam parte da casa, aqui são quase todos elementos modernos e estranhos que se enrolam com elementos desconhecidos. Quase todos – o cantor principal da banda é um conhecedor fanático de antigas artes mágicas que, ao explorar a casa se isola cada vez mais dos restantes elementos da banda, aparecendo com complexas músicas já construídas que têm por base os poemas estranhos encontrados na antiquíssima biblioteca.
Apesar da história ser contada pelos diversos pontos de vista, alguns bastante cépticos em relação aos acontecimentos, cedo se percebem os elementos mágicos dos contos de fadas irlandeses – espaços que fogem à normal relatividade do tempo e do espaço possibilitando a vista de uma enorme extensão de terra a partir de um ponto pouco alto, ou percursos labirínticos e transmutáveis no interior da casa.
Claro que tudo é ficcional – a banda, a casa, os acontecimentos. Mas é a forma lenta e pouco reveladora dos vários relatos que se sucedem que torna a história transtornadora, um misto de realidade com algo não descrito mas de presença marcante onde ganhamos alguma afinidade com o jovem conjunto de músicos que vai caminhando lentamente para uma segunda desgraça.
O ambiente é mágico, mas nem sempre fantástico – uma magia que transborda da paixão da juventude em pleno verão, misturando a alegria da idade com o consumo das drogas e que transforma os actos mais mundanos. Os episódios verdadeiramente surreais são poucos, mas coerentes entre si e fazem antever alguma desgraça. Episódios suportados pela evolução das declarações dos vários elementos da banda, que, referindo-se a acontecimentos anteriores, acabam quase sempre por lançar algum detalhe do que se irá passar mais tarde.
Tendo um bom ponto de partida – casas seculares, de extensos corredores labirínticos e imensos jardins ou florestas sem trilhos – a história aproveita o uso de drogas pelos membros da banda para não ser conclusiva na quantidade de surrealidade que existe nos acontecimentos – uma boa leitura inquietante.
(foi fornecida uma cópia para opinião pelo Netgalley).

