Eis o segundo volume de Foundryside, uma série que surpreendeu pelo mundo construído, pelas regras que o regem, e pela forma inteligente como o autor usa a própria construção do mundo para desenvolver enredo!
A história
Na realidade de Foundryside, a civilização é controladas por casas poderosas. Cada casa tem a sua própria forma de moldar e controlar a realidade – é possível redefinir, através de uma forma de escrita específica (escritos), toda a realidade, desde os objectos, ao passar do tempo. Estas casas têm sede na cidade de Tevanne e entre elas existe uma contínua e, por vezes, doentia rivalidade.
Sancia, a personagem principal do primeiro volume que tem, também neste volume, um papel preponderante, já foi uma escrava. Vítima de experiências em humanos, acabou com uma faculdade interessante, mas por vezes incómoda – a de conseguir conversar com as frases de redefinição de realidade, questionando e alterando a percepção de cada objecto.
No primeiro volume (saltem se não o leram) Sancia e as restantes personagens, conseguiram quebrar uma casa, usando o espaço criado na cidade para a geração de pequenas empresas privadas para comercialização (e democratização) dos escritos.
Opinião
Um dos aspectos mais interessantes desta trilogia é a criação do mundo fantástico. O autor já tinha criado algo fabuloso com City of Stairs, e aqui volta a fazer a mesma proeza. A premissa dos escritos é simples, mas pode ser escalada a grandes níveis de complexidade. E o autor não usa estes níveis logo no início da história, o que permite ir evoluindo a premissa com o decorrer da história, sem, necessariamente, alterar os pressupostos iniciais. Esta forma de evoluir a premissa permite criar um sentimento de coesão ao longo dos dois primeiros volumes.
Ainda assim, achei este volume menos envolvente que o anterior. Apesar de se iniciar com episódios movimentados (uma missão urgente e perigosa) e de tentar manter um ritmo elevado, o autor investe pouco tempo em desenvolver as personagens. Estas já eram conhecidas do livro anterior, mas tendo lido há algum tempo, existem detalhes empáticos que precisavam de ser novamente trabalhados.
A quebra das casas e o desenvolvimento de pequenas iniciativas privadas pode ser interpretada como alguma crítica social, um comentário às grandes empresas que, com a sua existência, sufocam o acesso mais democrático à tecnologia. Por outro lado, mesmo com criação de espaço para estas iniciativas, o foco no seu próprio sucesso é de tal ordem que se podem perder em pequenas e mesquinhas competições, ao invés de unir forças por causas comuns.
Conclusão
Ainda que Shorefall tenha ficado abaixo do primeiro volume da série, Foundryside, é uma leitura muito boa. Tal como o primeiro, tem como característica mais interessante, a forma como o autor trabalha a construção do mundo e desenvolve a premissa.