Eis outro livro de T. Kingfisher! Tal como noutros livros da autora, este é destinado a um público mais juvenil centrando-se numa rapariga de 11 anos que tem uma mãe demasiado protectora e obcecada com a filha. Este livro foi nomeado para o Lodestar Award (prémio apresentado durante a Worldcon, para melhor livro YA).

A história

Summer, o nome da rapariga de 11 anos, é uma criança que é demasiado controlada pela mãe. Mas o excessivo controlo não é a única característica da mãe, também dada a episódios de desequilíbrio emocional, que Summer se habitua a acalmar. Apesar de ser boa a desempenhar esta tarefa, Summer sente-se esgotada sempre que tem de ajudar a controlar a mãe.

Entre o excessivo controlo e estes episódios de desequilíbrio, Summer sonha em um dia partir em aventuras. Se, ao menos, isso não provocasse outro episódio emocional. Mas quando, um dia, Baba Yaga aterra no seu quintal e lhe fornece o que mais deseja, sem que tenha de o proferir, Summer vê-se num outro mundo. Qual o objectivo desta aventura neste estranho mundo? Desconhece totalmente. Até porque Baba Yaga não lhe deu qualquer direcção. Mas o que descobre é que uma árvore está em apuros e ao tentar salvar uma árvore, inicia um longo e perigoso caminho.

Crítica

Summer in Orcus começa como uma típica história em que uma jovem criança se vê num mundo fantástico com a missão de salvar este mundo. Mas neste mundo, a criança (apesar de conhecer este padrão das histórias fantásticas e de perceber que está numa) não sabe que objectivo terá, nem tem nenhum guia ou profecia que a orientem. Ao invés disso, toma por missão ajudar algo com a qual se associa emocionalmente, vendo-se rapidamente perseguida por alguém que parece ter algum poder naqueles reinos.

Esta história remete para várias outras do mesmo estilo, fantasias que se centram em crianças enquanto heróis num mundo desconhecido. Mas ao contrário destas outras fantasias, Summer in Orcus refere-se à criança enquanto criança, destacando que esta não deveria passar por determinadas missões. Tal como noutras histórias do género, irá encontrar amigos que com ela enfrentam os perigos que a acompanham. Diria até mais – sendo uma criança, as criaturas com as quais se cruzam reconhecem as suas fragilidades e limitações e acompanham-na. Summer vai ser corajosa. Mas também vai mostrar desespero, solidão e medo, demonstrando que, até uma personagem principal tem os seus receios.

Para além de usar uma abordagem pouco típica com a personagem principal, esta história usa percursos e métodos alternativos ao frontal confronto. Temos, portanto, burocracias e truques gramaticais, bem como transformações e momentos para formar novas alianças de forma pouco usual. Nem todos se fascinam com Summer, e no decorrer da aventura descrevem-se as diferentes realidades de diferentes criaturas.

Adicionalmente, nem todas as criaturas boas são totalmente boas. Mas também, nem todas as criaturas más são totalmente más. Apresentam dualidades, interpretações e contextos, explicando-se assim porque algumas agem da forma como agem. Até as criaturas mais nobres são corrompíveis e até as criaturas mais inocentes podem fazer escolhas que as levam por um perpétuo mau caminho.

A somar a todos estes detalhes que tornam Summer in Orcus uma narrativa peculiar, temos a própria Summer que é, notoriamente, uma criança que tem assumido responsabilidades excessivas para a sua idade, ao ter a missão de controlar a mãe. Esta sua capacidade será útil na demanda, mas de destacar que existe uma afirmação directa de outras personagens de que Summer assume indevidamente um papel de adulto – uma realidade que muitas crianças conhecem e com a qual têm de viver.

Outra capa

Conclusão

Tal como outras narrativas de T. Kingfisher, a história segue alguns clichés do género fantástico, para criar uma nova variante, que se torna mais profunda e interessante do que o original, na forma como constrói e desenvolve personagens. Este é outro daqueles livros da autora que, apesar da aparência fofa, se revela uma história de final feliz mas contornos tristes.

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