Existem alguns livros que nos atraem, sem que saibamos muito sobre eles. Foi o caso deste The Lost Boy que vi em leilão, do mesmo autor de Indeh. Aspecto curioso e desenhos detalhados a preto e branco, visualizados após uma breve pesquisa, eis que o livro me chega a casa.
The Lost Boy começa por nos apresentar um rapaz, Nate, que se muda para uma nova casa, escolhendo como seu um quarto que tem um esconderijo no chão. É neste esconderijo que encontra um gravador de cassetes que pertenceria ao anterior dono do quarto, um rapaz que terá desaparecido sem deixar rasto.
Para além deste achado, Nate começa a ver criaturas impossíveis – um menino que afinal é um boneco de porcelana, um insecto que se locomove montado numa rã ou num cão. Apesar de acreditar estar a ver coisas, as suas visões são confirmadas por um adulto que lhe explica o confronto entre forças que estará a decorrer.



Entre a premissa, e o ambiente familiar de Nate, há vários elementos que são comuns a outras histórias de fantasia – crianças que se deparam com uma realidade diferente, que só elas podem ver, e nas quais terão de agir como heróis definitivos e essenciais. Não é por acaso que narrativas como I Hate Fairyland ou Los que Quedan se destacam por apresentar novas perspectivas sobre o mesmo conceito. Ou até alguns dos livros T. Kingfisher, que se confrontam com a brutalidade de tal peso em cima de uma criança (Summer in Orcus ou Minor Mage). Noutros casos, como em Sete Minutos Depois da Meia-Noite, o fantástico é um meio de fuga da realidade, uma forma da criança se abster de confrontar a doença prolongada da mãe.
Neste caso, parece ser um misto. Nate tem um relacionamento complicado com o pai. A mãe estará ausente, mas o pai é um pouco duro com ele, não o ouve nem se apresenta como uma figura parental estável e confiável. É neste ambiente que Nate se vê cada vez mais a explorar o fantástico que existe em torno dele – ainda que neste fantástico exista pouco de fofinho e alegre. Aliás, este fantástico é tenebroso, com vários elementos que podemos encontrar facilmente numa história de horror. Desde a criança com cara de boneca, ao insecto de falar enigmático.
O seguimento da história é mais ou menos previsível. Nate encontra outra criança que conhece a história do anterior dono do gravador de cassetes e juntos, exploram o que existe em seu torno. As criaturas fantásticas são várias, as referências também – demasiadas e sem grande distinção entre elas, criando uma narrativa pouco envolvente. A narrativa decorre numa linha mais ou menos previsível, sem grandes reviravoltas ou surpresas.



O que se destaca verdadeiramente em The Lost Boy é o visual. O desenho é detalhado e realista, apesar de não usar cor. Os quadrados a preto e branco sucedem-se com desenhos brutais, jogos de sombras e perspectivas que funcionam de forma belíssima. Aliás, ainda que a história não seja propriamente má (mas também não se destaque), o desenho compensa esse aspecto – quer nos episódios fantásticos (e teoricamente mais livres à imaginação) quer nos episódios passados no mundo real.
The Lost Boy é um livro que não traz muito de novo em termos narrativos – nem na sequência dos acontecimentos, nem nos aspectos mágicos, que parecem seguir uma fórmula no que diz respeito ao fantástico. No entanto, destaca-se nos desenhos que nos apresenta, pelo que não estou nada arrependida por esta compra.


