Da série Valerian visto por… adquiri três volumes de três autores diferentes. Li recentemente o La Armadura de Jakolass por Manu Larcenet, um autor mais conhecido por outros livros de banda desenhada como O Combate Quotidiano ou O Relatório de Brodeck. É um livro engraçado com pontos curiosos, que pega num humano comum e banal para fazer de herói. Pego agora neste que nos remete para as curiosas criaturas que dão nome ao título.
A história começa por nos apresentar Valerian e Laureline numa nova missão – captarem a cabeça de um andróide que gera várias empresas offshores por dia para fuga ao fisco. Na sua mente estão os detalhes de várias fortunas e a sua perda irá ter um elevado impacto económico. Mas o processo de captação de tal cabeça não será fácil – principalmente depois de ser engolida por um peixe. Em paralelo, a dupla apercebe-se que a Terra estará em perigo, no seguimento de um plano dos Shingouz que emitiram várias sondas no espaço tempo com o objectivo de obterem vários planetas.



A narrativa utiliza o contexto intergaláctico da série Valerian para tecer críticas à nossa realidade – sendo a criação de empresas fantasmas para fugir aos impostos, uma das interpretações mais directas. Os Shingouz também criaram empresas e também procuraram aproveitar-se da tecnologia para captar o maior número de mundos possível.
Neste contexto em que uns possuem bens de elevado valor e traficam animais raros (em vias de extinção), os salários de dois agentes intergaláctivos é praticamente irrisório e sente-se a dificuldade que as personagens têm em ficar indiferentes aos valores referidos. Nesta lógica em que tudo se vende e compra, até a figura de Laurelina será cobiçada para a venda de produtos adultos.
De raspão são-nos apresentados outros temas como a extensa poluição que os humanos provocaram no planeta Terra, mas tudo envolto num ambiente ligeiramente cómico provocado pelo exagero, onde as figuras dos Shinguz contribuem para o relaxar da narrativa.



Comparando com o original, a interacção entre Valerian e Laureline apresenta-se diferente, da mesma forma que Valerian parece menos heróico, atraído pelas diferentes possibilidades financeiras, menos positivo, mas mais humano e real. Ultrapassando estas diferenças na percepção do relacionamento e das personagens, o tipo de aventura assemelha-se a algo possível de acontecer na série original, ainda que aqui contenha toques de absurdo que constituem a componente cómica.
Em termos visuais, esta aventura é expressiva, sendo que as feições apresentam algum exagero (contido) para facilitar essa expressividade. O desenho apresenta fabulosas imagens no espaço ou nas profundezas do oceano, mas também momentos mais focados nas personagens e, consequentemente, mais detalhados e realistas.



Este volume resulta numa agradável leitura, recordando-nos a série original, mas não se deixando colar demasiado, ao mesmo tempo que coloca elementos absurdos e ligeiramente exagerados para tecer, em simultâneo, o tom de crítica e o ambiente cómico. Julgo que será uma leitura mais apreciável por quem conhece a série original, ainda que possa ser lido isoladamente.
