Volume grande, de tamanho e aspecto impressionante, O Inferno de Dante, de Paul e Gaetan Brizzi, é um dos lançamentos mais recentes de duas editoras portuguesas, A Seita e Arte de Autor. Trata-se da adaptação para banda desenhada de A Divina Comédia, de Dante Alighieri.
Focado em Beatriz, a sua pura amada, Dante é guiado por Vergílio, o poeta grego, pelo Inferno e pelo purgatório. No Inferno há-de percorrer os 9 círculos, cada um correspondendo a um tipo de pecado e respectivo castigo, sendo o primeiro o Limbo. A viagem faz-se descendo pelos vários níveis, sendo que Dante vai ser posto à prova em relação a cada um dos pecados.



Ao longo do percurso, Dante vai encontrar diversas figuras históricas e mitológicas, que estarão a ser punidas de acordo com os seus pecados. Estas figuras são sobretudo referências gregas, encontrando-se Deuses, filósofos, e, até, criaturas curiosas ou monstros. A combinação destes elementos com paisagens fantásticas (e obscuras) permitem construir belíssimos desenhos que ocupam páginas inteiras.
Em termos narrativos, faltam alguns episódios e detalhes, havendo um foco em cada círculo, mas resumindo-o ao essencial. Estes cortes conferiram fluidez da narrativa, adaptando uma história complexa ao formato, aligeirando-a. Faltam, claro está, algumas ligações e pormenores que tornariam alguns níveis mais interessantes e que acabam por ser percebidos apenas superficialmente, mas globalmente, o resultado permite uma boa leitura ao leitor de banda desenhada.



Tal como a narrativa é negra e pesada (nos vários níveis encontramos humanos reduzidos à repetição associada ao pecado cometido), o desenho em tons de cinzento ajuda a definir um ambiente sombrio, de elementos grotescos, onde se sente uma progressão da negritude.
O Inferno de Dante é uma boa adaptação da obra de Aligheri, conseguindo tornar o clássico numa obra mais leve, que se foca no essencial e consegue transmitir o conteúdo de forma actual sem desvirtuar o original. Como livro, destaca-se ainda mais na impressionante componente visual, onde é relevante o tamanho do volume (que permite admirar as imagens).



