A nova aposta da Editora Asa apresenta um título curioso, sob uma edição que merecia maior cuidado. A capa mole para o tamanho do livro não auspicia que permaneça incólume após a leitura. Ultrapassando esse aspecto, é uma história formidável e envolvente – mas sobretudo sincera pela forma como o autor se expõe face aos seus sentimentos e preconceitos.
A história apresenta-nos o autor que decide mudar-se do Brasil para França, estando a esposa grávida da segunda filha do casal. Acompanhamo-los enquanto passam pelos normais exames, ainda que, no Brasil, alguns procedimentos sejam diferentes – mais especificamente os que dizem respeito ao diagnóstico de trissomia XXI.



Por improbabilidade estatística, a bebé irá nascer mesmo com este síndrome, ainda que demore algum tempo a ser diagnosticada. Percebe-se, no entanto, que tem um problema de coração, comummente associado à síndrome. Ainda que exista uma constante mensagem de normalidade por parte do pessoal médico, o autor desconfia desde o primeiro momento.
O diagnóstico é inevitável. Com ele vem o choque dos pais, principalmente do autor, que para além da falta de aceitação, parece sentir indiferença e desapontamento. Após o choque, segue-se o assumir de responsabilidades e progressivamente a perspectiva construtiva – principalmente quando encontram profissionais de saúde mais direccionados para o tópico que os ajudam a ser mais positivos. Finalmente, vem a aceitação. Não era aquela criança que ele esperava (nenhum pai espera um filho com problemas) mas ainda assim, está contente por a ter.



A história explora os preconceitos para com as pessoas com deficiência, mostrando como são tratados pelos colegas (em episódios raros vivenciados pelo autor), como são vistos pela sociedade e, no final, pelos próprios pais. Para este preconceito não contribui, claro que muitas pessoas com deficiência vivam isoladas, fora das escolas e da sociedade.
Acima de tudo, é um relato sincero sobre um pai que se vê confrontado com o inesperado, com os seus próprios preconceitos e expectativas falhadas, e que, progressivamente os vai descontruindo, e aceitando a nova criança, ficando, até, feliz por esta existir.



Não eras tu quem eu esperava é um relato tocante. O autor expõe-se na narrativa, conferindo proximidade e empatia à história. Revela pensamentos e sentimentos difíceis de assumir naquela situação, construindo um percurso pessoal que nos envolve pela sua frontalidade. O resultado é uma excelente leitura que, novamente, merecia uma edição ligeiramente melhor.

Que gracinha, provavelmente será emocionante