Eis um livro para o qual tinha expectativas elevadas. As críticas que li eram razoáveis e a premissa, apresentando um mundo pós-apocalíptico, em que as personagens principais sobrevivem explorando cidade antigas e resgatando restos da civilização anterior parecia interessante. Ainda que o volume tenha entregado esta componente, possui uma reviravolta final a atirar para o New Age que quebra um pouco o ambiente construído anteriormente.
A história começa por nos apresentar dois homens, Max e Kai, que devem tratar-se por códigos e que exploram as ruínas de um mundo antigo. É aqui que encontram os restos de um robot consciente que levam para a cidade, com vista a activá-lo e perceber o seu valor. A cidade, governada e organizada pela IA tudo controla, gerando um pequeno debate sobre o balanço entre o controlo excessivo e a protecção conferida.



O ligar do robot traz um desafio, mas também perigos. O robot poderá saber onde outras “riquezas” se encontram, e a dupla deverá procurar recuperar as suas memórias. Mas para tal terão de se afastar demasiado da cidade IA, e terão de fazer negócio com um humano demasiado alterado pela tecnologia – um homem que se julga próximo dos deuses.
Mundo inóspito, corrompido pelos humanos, e uma civilização decadente, oscilando entre a concentração de tecnologia para alguns e a precariedade para outros – assim é a realidade apresentada em Huxley, onde se apresentam alguns episódios característicos, quase clichés deste género de cenários. A exploração não se faz sem riscos, existindo caçadores mais selvagens, e apesar de existir uma cidade IA minimamente ordeira, existem outras, também, onde reina a lei do mais forte.



Esta caracterização típica costuma ser acompanhada por uma linha narrativa de confrontos violentos, onde se mostra a humanidade endurecida pelas condições pós apocalípticas. E assim é em boa parte do livro. No entanto, existe uma alteração desta linha, uma quebra com mudança de foco nas personagens e quebra de progressão, que não é totalmente coerente com o que nos foi apresentado antes. Tal alteração não me teria causado impacto, se tivessem surgido as pistas devidas para tal. A impressão que fica é a de duas partes que quase se opõem, em tom e progressão narrativa.
Do ponto de vista visual, apesar de ter imagens interessantes e fascinantes, quase cinematográficas, desgosto do excessivo delineamento das personagens e de alguns objectos chave. Ainda que os faça destacar no desenho, existem outros métodos para conseguir tal, fazendo com que a imagem não seja tão sobrecarregada e, por vezes, desafiante.



Talvez pelas elevadas expectativas que tinha para este livro, achei que não correspondia totalmente. Gostei da leitura e, apesar de todas as críticas, não a achei tão excelente como os livros aos quais o comparam (mais franco-belga, como Metabarões e Incal). Ainda assim, gostei do mundo construído e dado que, do ponto de vista narrativo, foi a reviravolta final que menos apreciei, deverei ler o volume com a história que antecede Huxley.

