Eis uma das novas sensações do momento – uma série em formato webnovel e webtoon, de origem coreana que nos leva a um mundo de contornos medievais onde a magia e as criaturas monstruosas são possíveis.

A narrativa centra-se em Maximilian, a filha mais velha do Duque Croyso que foi oferecida em casamento a Sir Riftan Calypse, um cavaleiro de humildes origens que após consumar a união parte em campanha contra o dragão. A jovem, gaga, é constantemente menosprezada e agredida pelo pai, comparada com a irmã, o símbolo da beleza e da perfeição. Três anos depois, morto o dragão, o pai ameaça-a de um futuro pouco promissor se o Sir Riftan Calypse pedir o divórcio.

Felizmente, não é essa a intenção de Riftan, um homem mais habituado a lidar com monstros do que com a delicadeza de uma donzela, mas que rapidamente demonstra sentimentos positivos para com a esposa, apesar de não a conhecer bem. Max, por seu lado, demora a perceber que Riftan não é como o pai e que, portanto, não a irá agredir – pelo menos por enquanto. O receio de que Riftan perceba que não é uma dama perfeita permanece, e será um dos laços que marca a progressão da história.

Considerada agora a dona do castelo, Max é incumbida de o decorar, apesar de não saber lidar com dinheiro ou com o comércio. Felizmente, vai conseguir em Ruth, o mágico ao serviço de Riftan, um aliado para gerir de forma mais adequada – capacidades que vão ser fulcrais, sobretudo quando Riftan é chamado a uma audiência com o rei.

A narrativa oscila entre o desabrochar psicológico de Max, ao mesmo tempo que transforma o castelo na sua nova casa, e a forma como o jovem casal desenvolve intimidade e se relaciona, clarificando mal entendidos. Existem, ainda, episódios que mostram como Riftan luta com os monstros, e relatos de outros cavaleiros sobre as campanhas e as capacidades fenomenais de Riftan enquanto cavaleiro.

Max começa com uma baixa auto-estima (havendo até menções de como se odeia) derivada dos problemas da fala, dos abusos do pai e consequentemente dos mal tratos da restante criadagem. O casamento começou como frio e distante, com Riftan a ter de partir imediatamente após a união, o que acrescentou uma camada traumática ao relacionamento.

Habituada a relações familiares disfuncionais onde é, nitidamente, a parte mais fraca, Max tem as mesmas expectativas para o casamento. Com o retorno de Riftan e a ida para uma nova localização, ambos vão ter de se adaptar à nova realidade – e ainda que as intenções do cavaleiro sejam positivas, o seu semblante sério e a agressividade que demonstra para com os monstros (bem como, claro, os traumas acumulados) fazem com que o relacionamento evolua lentamente de desconhecimento para alguma confiança.

Apesar de ser a filha mais velha do Duque, Max não foi educada como uma donzela em todas as vertentes. Sabe ler, mas socializar era algo incomum (sendo até escondida da maioria dos eventos) e não sabe administrar um castelo – capacidades que irá desenvolver lentamente, o que lhe dará confiança para desenvolver uma personalidade autónoma.

Em pano de fundo, referem-se condições sociais e expectativas para cada um dos papéis. Ao contrário dos aldeões da terra do pai, os da terra de Riftan acolhem-no e demonstram apreço, sendo que de Riftan é esperado que afaste os monstros e proteja aquelas terras. Já as expectativas para Max são mais dúbias. O pai é um homem odiado também ali, e ninguém sabe o que esperar da filha de tal pessoa, projectando nela algumas características do pai.

Ao contrário de outras narrativas com premissas semelhantes, esta apresenta um desenvolvimento menos idílico do que os contos de fadas ou contos fantásticos – ainda que use alguns elementos clássicos, focando-se em aspectos traumáticos, e apresentando relacionamentos onde existe um desequilíbrio de poder.

Enquanto leitura, é uma narrativa que se desenvolve pausadamente, focando-se sobretudo na perspectiva de Max, alterando episódios presentes com o passado, e justificando, desta forma, as reacções da personagem. Os episódios de acção são bem pontuados, proporcionados normalmente por Riftan, conferindo alguma tensão à história e retirando um pouco o foco dos traumas de Max.

Os volumes destacam-se também do ponto de vista visual, sendo que as imagens alternam entre o foco nas personagens (com pouco enquadramento do local onde se encontram) e fantásticas paisagens, possíveis pela premissa fantástica.

Under the Oak Tree não é uma leitura excepcional, mas cumpre com o esperado perante a premissa, proporcionando uma narrativa fluída e com algum interesse. Existem alguns clichés, esperados, que são usados a proveito da história, mas que aqui, nestes dois volumes, ainda não têm grande impacto – a forma como serão usados nos episódios que se seguem vão determinar o tom e a qualidade da história de forma mais global.