Publicado em Portugal pela Editorial Presença como A Mão Esquerda das Trevas, The Left Hand of Darkness foi premiado com o Hugo e com o Nebula, sendo um dos mais conhecidos livros da autora, a par com The Dispossessed ou a saga Earthsea.
Pertencendo ao ciclo Hainish constitui uma história independente, num Universo onde uma espécie inteligente (designada por Hain) terá colonizado vários planetas, e utilizado, nalguns grupos de colonizadores, engenharia genética. Com o declínio desta espécie inteligente, os habitantes dos vários planetas (como a Terra) terão esquecido as suas origens, mas a evolução tecnológica ter-lhes-à dado uma nova oportunidade para estabelecerem uma aliança com as outras colónias.
Gethen é mais um dos planetas colonizados, onde a evolução tecnológica se desenvolveu mais lentamente, em parte por causa do Inverno perpétuo que se vive no planeta. Os seres humanos que habitam Gethen foram alvo de uma reformulação sexual que dita a forma como se estabeleceu a sociedade: andrógenos, estão sexualmente receptivos apenas durante alguns dias, e nesse período assumem uma só forma, masculina ou feminina, o oposto do parceiro que escolhem.
Genly Ai é o mensageiro escolhido para iniciar as negociações com Gethen para que este seja mais um planeta no Ekumen, nome que é dado à aliança entre os vários mundos colonizados inicialmente pelos Hain. Visto como uma aberração ou uma pessoa perversa por possuir um sexo definido e estar permanentemente receptivo, Genly tem a sua tarefa dificultada pela extensa burocracia e protocolo que circunda a corte. Contando apenas com a ajuda de um nobre, Estraven, julga-se enganado quando este é exilado por traição e finalmente consegue uma audiência com o rei, que, ao contrário das suas expectativas, vê na aliança uma ameaça à sua autoridade. Finalmente, também Genly Ai é obrigado a afastar-se da corte, procurando aliados entre os vários grupos que vai conhecendo.
A par com a história, densa em pensamentos, emoções e intenções não explícitas, a autora explora as diferentes potencialidades de uma sociedade onde todos os seres são igualmente fortes ou fracos, sem que exista uma associação entre o género e determinadas tarefas, ou entre o género e as emoções. Qualquer ser humano pode, em determinada altura da sua vida, engravidar e dar à luz, e noutra ser o progenitor que apenas fertiliza outro. Com características que são simultaneamente masculinas e femininas, os indivíduos de Gethen nunca conheceram a guerra, seja pela falta de um forte nacionalismo, seja pelas condições climáticas. Da mesma forma, também a religião é encarada levemente, e embora influencie os indivíduos, não parece existir fervor religioso. Existem alianças entre os indivíduos que se assemelham a um casamento, mas nesta os indivíduos partilham responsabilidades semelhantes.
Pela densidade de ideias e possibilidades, esta é uma história de leitura lenta, mas excelente, aconselhável a quem goste de ler algo que nos faça pensar. Partindo de uma premissa simples, a autora desenvolve-a num admirável exercício de ideias e premissas, ainda que não se resuma apenas a tal e explore, de modo envolvente, as personagens. Com algumas discussões feministas, a autora debruça-se também sobre questões sociais e políticas. The Left Hand of Darkness estará entre as melhores leituras de ficção científica, deste ano.
Parece-me mesmo uma obra magnífica… e é mesmo do tipo de obra de que gosto… tenho mesmo que o adquirir…
Diogo, eu gostei imenso – e já cá tenho outro que dizem ser também excelente – The Dispossessed, é da mesma autora e pertence ao mesmo ciclo.