Firefly – uma das séries de culto de ficção científica que assim se tornou ao ser bloqueada numa fase bastante inicial, quando começava a revelar as aventuras que cumpriam as promessas derivadas do conjugação de um mundo interessante e diverso, com personagens suficientemente malucas, cómicas e divertidas, mesmo em momentos de grande tensão.
Julgo que terá sido esta a fórmula que tentou copiar a série mais recente, Dark Matter, acrescentando mais detalhes de ficção científica (como clonagem e transmissão de consciência), mas sem o carisma das personagens de Firefly. E este ponto terá sido uma das características que mais destacou a série.
Nathan Fillion (um dos actores principais, agora mais reconhecido pela personagem Castle na série de mesmo nome) é quem nos introduz esta banda desenhada, espelhando a sua paixão por banda desenhada na infância, paixão essa que terá criado um desejo de se tornar herói. É este sonho que terá sido parcialmente concretizado na série Firefly, e que, a meu ver, se transmitiu no carisma da personagem correspondente.
Infelizmente, a série foi cancelada ainda na fase de promessa semi-concretizada. Este cancelamento originou histórias paralelas em várias fanfiction, de admiradores insatisfeitos. Serenity, um filme lançado posteriormente, terá tido como objectivo fechar a série e responder, em parte, ao sentimento de frustração que a série terá deixado. De tom mais dramático, o filme deixou, mesmo assim, espaço para um conjunto de aventuras. É neste espaço que se enquadram as histórias da banda desenhada, também de Joss Whedon. Mas, apesar de interessante, pelo menos este volume, não me encheu as medidas.
O que falta? Falta o lado mais descontraído e louco das personagens que tornava as aventuras mirabolantes e emocionantes, sem as carregar de tragicidade nas situações mais inusitadas. Detalhes que, vendo a introdução de Nathan Fillion, terão sido complementados pelos próprios actores. They were having fun. E com eles, nós também.
Reconhece-se a pitada de aventura louca, da desinibição, o pensamento de “nada a perder” de um mercenário que só pensa no lucro. Falta a densidade das personagens, faltam as expressões peculiares de loucura – e não só de Nathan Fillion, como também de Alan Tudyk (que mais tarde iria ser aproveitado para integrar a excepcional Dollhouse, também de Joss Whedon). Nota-se que houve um esforço para tentar passá-las para o papel, Mas… não me parece que tenha sido bem sucedido.
A banda desenhada parece ter sido construída para preencher parcamente o vazio que ficou entre a série e o filme – falta-lhe a mesma paixão, a mesma forte caracterização das personagens que tornava a série tão especial. Esta caracterização parece querer sobreviver com base no eco da série, faltando na banda desenhada a expressividade. Se os grandes planos, longe das personagens, são interessantes, nos planos mais próximos, não se capta o mesmo espírito aventureiro.
Fica a vontade de rever a série e de melhor recordar a loucura missionária.