Já falei, por diversas vezes, da importância na internacionalização, tanto de autores como de editoras, e na importância de se divulgarem iniciativas e de assistir às convenções nacionais e internacionais. Para quem está habituado a ler antologias de contos de outros países, rapidamente se percebe que o nível de Portugal não é o mesmo de outros países – temos alguns autores excelentes, mas são poucos e não existe um mercado ou editoras que apostem nos contos e, muito menos, em contos de novos autores. Existem, claro, algumas pequenas excepções (Imaginauta, Divergência, etc) mas estas são apostas mais recentes que ainda não têm um grande impacto no nosso mercado, apenas no nicho de quem gosta de ficção científica ou fantástico.

Posto isto, esta antologia é algo inovador no mercado português, resultando de uma ida do editor à Eurocon, onde estabeleceu contactos que lhe permitiram criar uma parceria com outras editoras europeias através da qual se publicou, conjuntamente, uma antologia Steampunk com autores filandeses, ingleses e portugueses.

Com autores reconhecidos internacionalmente no género (como George Mann) esta antologia tem excelentes contos, encontrando-se ao nível de muitas antologias internacionais de ficção científica. A antologia começa com uma história de Anne Leinonen onde se constróem belíssimos chapeús com raras capacidades – capacidades que não são perceptíveis por quem os rouba, resultando numa sucessão de episódios de consequências circulares.

A segunda história, de Meresmaa, é das minhas favoritas do conjunto, mostrando uma rapariga, órfã de pais, que tem de submeter aos caprichos do tio que agora dirige a fortuna que lhe deixaram. A rapariga pretende estudar, algo que, na época, não é bem visto, muito menos pelo tio que não quer deixá-la escapar à sua influência. Já em O Jantar Ateniense a dupla de autores faz uma homenagem ao desenvolvimento dos processos ginecológicos que permitiram que morressem menos mulheres com os partos.

Quatro Estações de Wither por George Mann é outro dos excelentes contos desta antologia, onde a dor da perda se cruza com o poder criativo, resultando numa homenagem monstruosa e na morte de várias pessoas. Já Jonathan Green com Engenharia Imprudente apresenta uma literal fuga de cérebros! Em Videri Quam Esse explora-se a possibilidade de mimetizar vida e de, consequentemente, se criar vida.

Fotografia da editora filandesa Osuuskumma-kustannus

A antologia fecha com mais dois contos de portugueses, Coração de Pedra de Diana Pinguicha e A Aranha de Pedro Cipriano. No primeiro conto alguém se confronta com as criações artificiais, semelhantes a si, enquanto no segundo uma espia aproveita a sua aparente fragilidade para desempenhar uma missão pouco provável.

O resultado conjunto desta antologia é bastante positivo, contendo alguns conceitos interessantes dentro do género Steampunk – a maioria das histórias encontra-se bem desenvolvida, chegando, até, ao nível do excelente e apresentando uma boa diversidade de premissas e de estilos. Apesar de possuir premissas originais estas não sufocam a narrativa, havendo espaço para apresentar histórias que entretém o leitor.

A antologia Steampunk Internacional foi publicada pela Editorial Divergência.