Já tinha começado a ler esta série antes de ter sido lançada em português. Mais recentemente, a G Floy lançou os primeiros três volumes, atingindo a totalidade do que já tinha lido. Este quarto volume é o primeiro que leio na edição portuguesa (opinião ao Livro 1 e ao Livro 2) e corresponde às minhas expectativas para esta série: histórias de criminosos onde a criminalidade parece um ciclo a que é impossível de resistir, que se perpetua para além do esperado.

Este quarto volume corresponde a dois conjuntos de Criminal, Lugar errado, Altura errada (Wrong Time, Wrong Place) e Um Fim-de-semana mau (Bad Weekend).

A história

A primeira história deste volume centra-se em Teeg, um homem na cadeia, que rapidamente se vê alvo de intenções indesejadas, esquivando-se a várias tentativas de assassinato. Ainda que não seja nenhum anjinho, o homem não se recorda de ninguém específico que pudesse dar-se a tanto trabalho para o ver morto.

Na segunda, Teeg, já liberto, leva o seu filho de doze anos como condutor, numa longa viagem em que se sucedem os roubos de automóvel, e alguns outros pequenos truques para sobreviver com pouco dinheiro. Sem poder contactar com ninguém, o miúdo evita qualquer pessoa que dele se aproxime por receio das consequências geridas por Teeg. A viagem é um longo caminho de vingança, perspectivo pelo filho, que é obrigado a apresentar uma postura mais adulta e séria.

A última história, Um Fim-de-semana mau leva-nos para uma convenção de banda desenhada e tem como personagem principal um autor de banda desenhada que, com imensos anos, é uma figura quase esquecida no meio. A perspectiva é a de um ex-ajudante do autor, que foi chamado a acompanhá-lo durante o evento – mas o autor tem a sua própria agenda para aquele fim-de-semana.

A narrativa

Todas as histórias presentes neste volume apresentam trechos de outras histórias de banda desenhada, que as personagens lêem ou produziram – tanto as histórias de Lugar errado, Altura errada, como a história em Um Fim-de-semana mau. Um género de meta-banda-desenhada que é usado para dar um nível curioso – como elemento de interligação entre personagens, e como reflexo deturpado da história principal.

Na primeira história, Teeg lê as histórias de Zanghan, uma banda desenhada fictícia que tem algumas semelhanças com um Conan, um guerreiro bárbaro que se vai envolvendo com feiticeiras. Cada leitura apresenta um episódio diferente, por vezes interrompida pelas circunstâncias a que Teeg não consegue escapar. Já na segunda, Teeg dá ao filho uma banda desenhada estranha, com um lobisomem vigilante que usa os seus poderes para lutar contra criminosos. A terceira é, claro, óbvia, o autor de banda desenhada numa convenção está obcecado com algumas pranchas suas e empreende esforços para as recuperar.

O tom deste volume é um pouco diferente dos anteriores. Ainda que as primeiras histórias tivessem um tom mais cru, e as seguintes apresentassem algum refinamento, a maioria delas, até agora, tinha como premissa a tentativa de sair do mundo do crime, mas ser confrontado com algo que determinava um retorno. Neste volume não parece haver esta aura de crime enquanto via inevitável para alguns – as personagens parecem abraçar mais a sua própria natureza, confrontando-a com um código de ética estranho e, até, pouco lógico (tanto para mim, como para algumas das personagens que o referem).

Prosseguindo com esta diferença, a narrativa apresenta a fórmula usual das histórias da dupla Ed Brubaker e Sean Phillips. As histórias começam com alguma circunstância violenta, demonstrando o carácter das personagens, mas prossegue de forma mais ligeira, acumulando tensão crescente. Sente-se o aproximar de um grande evento ainda mais violento e pesado do que o original, quer por dicas da personagem narradora (que noutras histórias dava, também, o tom da inevitabilidade), quer por um seguimento lógico das circunstâncias.

É de realçar que as histórias anteriores foram escritas entre 2007 e 2011, sendo que Lugar errado, altura errada foi escrito com um intervalo de cinco anos (em 2016) e Um Fim-de-semana mau após um novo intervalo de três anos (em 2019).

Conclusão

Apesar das diferenças entre as histórias deste volume e as anteriores, tratam-se de boas leituras que correspondem às expectativas para quem já conhece os autores. Lugar errado, altura errada introduz as várias bandas desenhadas (de suposta qualidade duvidosa e de distribuição deficiente) entre os episódios da narrativa principal e Um Fim-de-semana mau tem uma premissa pouco usual para as histórias de Criminal. A introdução destes elementos permitiu dar a sensação de novidade e originalidade, dentro do mesmo Universo de Criminal, transformando-as em algo diferente mas mantendo a boa qualidade.