Zezé é um menino de cinco anos (quase seis) que nasceu numa família muito pobre – tão pobre que ele próprio trabalha a engraxar sapatos desde pequeno. Os irmãos são numerados e a miséria acaba por gerar uma onda de mal tratos a qualquer justificação – neste caso, em relação a Zezé que acredita ser uma peste sem remédio e que justifica a pressão emocional dos crescidos com as duras condições em que vivem.

Zezé é, na prática, muito endiabrado e sempre pronto a fazer partidas. Mas estas partidas não justificam a violência com que é tratado, levando tareias de todos os mais velhos do que ele. Apesar de traquinas é um rapaz precoce que aprendeu a ler sozinho e é, por isso, colocado na escola antes do tempo. É o rapaz mais pequeno da sua turma, mas também o melhor aluno.

Após a entusiasmante mudança de casa, Zezé, na sua solidão incompreendida, torna-se amigo de uma pequena árvore com quem imagina grandes diálogos e ainda maiores aventuras. Já o quintal é dividido em zonas geograficamente sonantes que servem de palco a outras brincadeiras com o irmão mais novo, a quem denomina de anjo.

Mas por detrás das partidas orquestradas por Zezé encontra-se uma miséria extrema. O pai encontra-se desempregado há largos meses. A mãe trabalha fora durante longas horas estando quase sempre ausente ou exausta. Os vários irmãos trabalham para ajudar a sustentar a casa, mas as actividades a que conseguem propor-se não fornecem grande sustento.

Além da pobreza, é a miséria. A falta de atenção dos progenitores, de comida e de educação. A combinação destes factores leva à acumulação de frustrações – frustrações essas que são descarregadas nos mais novos, sobretudo em Zezé que está sempre no meio de qualquer tropelia.

O Meu Pé de Laranja Lima é o retrato desta pobreza extrema que leva à degradação das famílias. É o retrato da miséria a que milhares de crianças se vêem atiradas e que condiciona todas as perspectivas de um futuro melhor.