Sim, eu sei que já toda a gente sabe o meu fascínio pela série I Hate Fairyland. Mas vou repetir os elementos essenciais que me levam a adorá-la. Para além do humor negro brutal, o cenário idílico de terra da fantasia é totalmente deturpado e contaminado pela impossível Gertrudes. Esta personagem principal, uma criança que permanece há décadas na terra das fadas sem conseguir sair, criou tanto asco a tudo o que é fofinho e bonito, que durante as várias histórias corrompe toda a beleza romântica de todas as fantasias que possam imaginar. Pois é. O autor usa todos os estereótipos ao longo da série, subvertendo-os.

Depois de quatro volumes da série, a Gertrudes finalmente conseguiu sair. Mas rapidamente volta, dando origem a novos volumes. Onde se encaixa então este Untold tales? Bem, na primeira série. Tratam-se de várias histórias que decorrem na primeira (e longa) visita à terra fantástica, apresentando Gertrudes como criança. São histórias soltas, sem continuidade entre elas, episódios que possuem a particularidade de serem produzidas por vários autores, o que confere uma panóplia interessante de estilos visuais e narrativos.

Não conheço a maioria dos autores (as excepções serão Fábio Moon e Gabriel Bá, Jorge Corona), mas quase todos conseguiram captar o estilo da série original, apresentando elementos narrativos que são coerentes com a personagem e as suas circunstâncias. Temos, então, Gertrudes de ressaca sem saber porque está semi transformada num monstro, Gertrudes como juiz num tribunal (depois de ter eliminado o anterior juiz) ou Gertudes fascinada por uma nova arma (que, claro, está nas mãos de alguém). Existem, no entanto, algumas histórias que divergem um pouco, centrando-se noutras personagens ou apresentando-se tangencialmente às circunstâncias usuais da história.

O resultado é, na média, muito bom, com histórias soltas brutais – não só do ponto de vista narrativo, mas também do ponto de vista visual. Alguns desenhos apresentam um padrão muito próximo do original, quer em estilo e cores, outras distanciam-se para criar algo diferente mas fabuloso.