De Rui Lacas já tinha lido outras histórias. Nesta, de 2002, reconhece-se a facilidade com que caracteriza a personagens de forma a criar empatia e a transmitir sentimentos – e pensamentos.

Em Que é feito do meu Natal? um homem, já de alguma idade, vê o Natal aproximar-se como uma sombra. Os contratempos acumulam-se: o pagamento renda que se adianta, um esperado jantar que afinal não se poderá pagar.

Toda a história revela um elevado grau de desumanização. Talvez uma característica urbana, em que todos passam uns pelos outros, isolados na multidão. Encontrões acelerados, ameaças de violência e interacções sem sentido. Faltam as ligações humanas e afectuosas que concedam a este homem uma vivência menos deprimente.

É neste registo que vemos, finalmente, a ceia natalícia. Num tom diferente dos restantes momentos, o jantar não é exactamente compensador de toda a desumanização que o antecedeu. Mas, ainda assim, possui alguns elementos mais positivos – um término agridoce que nos faz sentir, ainda mais, o poço de solidão em que vive este homem.

Que é feito do meu Natal? foi publicado em Portugal pela Polvo.