Há muitos anos, ainda não era leitora compulsiva de banda desenhada (vício caro para quem não tinha ordenado) e já me deslumbrava com os desenhos de Civiello nas prateleiras da FNAC. Para quem gosta de mundos fantásticos com toques de negridão e horror, o aspecto visual é perfeito.

Assim é, também, em Korrigans que nos apresenta um típico mundo de fadas habitado por criaturas pérfidas mas, também, por criaturas bondosas que sobrevivem dificilmente. Tal como nos mundos fantásticos tradicionais dos contos, a ligação com o mundo fantástico é breve e irregular, permitindo a passagem de humanos e de criaturas mal intencionadas.

Neste caso, uma família sofre uma emboscada numa noite de tempestade, enquanto percorre uma estradeca. Avô, mãe e criança vêem-se assim num acidente que os separará e terá consequências. A criança é a única que sobrevive, escondida por criaturas fantásticas que a levam para o seu mundo. O avô e a criança são levados para o mesmo mundo, mas com intuitos poucos agradáveis.

Neste curto volume acompanhamos brevemente a existência das duas facções no mundo mágico – os Korrigans, bondosos mas receosos, e o clã da floresta tenebrosa, os raptores de humanos que têm intenções tenebrosas (entre a tortura e produzirem mais umas refeições). As facções são caracterizadas de forma estereotipada – os bons unem-se e correm riscos por outros, os maus têm más intenções e matam-se uns aos outros. O desenho acompanha esta caracterização oposta, demonstrando umas figuras típicas das fadas tradicionais e umas criaturas monstruosas e feias.

Korrigas é, do ponto de vista narrativo, um conjunto de clichés de mundos fantásticos: a criança corajosa que enfrenta os maus para salvar os seus, os maus que demonstram um comportamento catastrófico em qualquer hierarquia, os bons que resolvem proteger outros, em seu próprio prejuízo. Mas! Alguém poderá ajudar a balancear as forças, alguém que deverá ser envolvido através de uma demanda onde se correm imensos riscos.

Visualmente, o desenho apresenta cores fortes e linhas nem sempre definidas, podendo provocar alguma confusão, sobretudo quando se tratam de episódios de maior acção. A maioria das imagens representam cenas nocturnas ou em tempestades, dando ao volume um aspecto muito negro. Ainda assim, possui algumas cenas fabulosas que cativam quem goste do toque fabulástico dos desenhos e da narrativa.

Neste sentido, Korrigans cumpre essa expectativa, construindo uma clássica narrativa fantástica com elementos tradicionais. Anos depois de me deslumbrar, já não considero o desenho a décima maravilha do mundo (pelos aspectos descritos anteriormente) mas a leitura deste volume recorda-me esse fascínio anterior e decerto continuarei a ler a história.