Café é um dos mais recentes lançamentos da Pythagoras, uma editora portuguesa que tem publicado no nosso mercado vários jogos de autoria nacional. Trata-se de um jogo estratégico de duração curta que nos deixa sempre a querer jogar mais umas quantas rondas. Foi, sem dúvida, uma óptima surpresa entre os lançamentos mais recentes.

O jogo
Qual o objectivo? Produzir quatro tipos de café para gerar pontos de duas formas: responder aos pedidos dos cafés ou acumular o produto produzido no armazém. O café é gerado ao longo de três passos ou tipos de acção: produzir (A), secar (B) e torrar (C). Estes tipos de acção encontram-se disponíveis nas cartas que podem ser expostas por cada jogador.
Sem entrar em grande detalhe nas regras, passo a explicar, sucintamente, o jogo. A cada turno o jogador adiciona uma carta ao seu espaço de jogo (ampliando-o) e realiza tantas acções quantas as chávenas presentes nas cartas expostas. Para produzir café é necessário fazer passar os cubos pelo ciclo de produção. Primeiro realizar a acção de produzir, depois secar e finalmente torrar. Após torrar, o jogador pode então gastar uma acção para distribuir os grãos produzidos pelos cafés (D) ou colocá-los no armazém.
Café é um jogo de estratégia em que a colocação das novas cartas é a chave do sucesso. A obrigatoriedade de sobrepor outras cartas quando se coloca uma nova, obriga o jogador a sacrificar algumas posições e a pensar, antecipadamente, nas posições que vai tapar nos turnos seguintes. A forma como dispomos as cartas tem uma grande importância na optimização das jogadas, já que se as casas de um mesmo tipo estiverem contíguas podem ser usadas em simultâneo gastando apenas uma acção.
Portanto, a cada turno, o jogador tem de analisar a distribuição das acções possíveis e adicionar uma nova carta visando a optimização do número de acções que pode realizar em cada turno. O jogo termina na oitava ronda.

Componentes
Café apresenta-se numa pequena e estilosa caixa, com um bom aproveitamento do espaço interior. Aqui encontramos um molho de cartas, quatro conjuntos de cubos de madeira em cores diferentes, um marcador dourado e quatro cubos brancos, maiores do que os anteriores. O insert a branco permite que a caixa acomode os componentes de forma adequada, sem grandes luxos, mas, também, sem nada a apontar.
Olhando para as cartas encontramos, na parte traseira, a mesma imagem da capa. Na parte da frente encontramos os seis espaços, devidamente espaçados, com uma simbologia fácil, acompanhada pelas indicações A,B, C ou D, consoante a ordem em que as acções devem ser usadas, desde a produção dos grãos à sua distribuição pelos cafés. As variações visuais nas cartas podem ser encontradas sobretudo nas imagens dos mais icónicos cafés portugueses.
Os componentes são competentes para a função a que se destinam e toda a simbologia encontrada é fácil de seguir. O espaço em branco nas cartas não permite um grande destaque visual ao jogo, mas também não cria confusões desnecessárias. É um visual limpo e funcional.
O livro de regras, que costuma ser o calcanhar de Aquiles em algumas produções portuguesas, é simples e directo . Para além da boa apresentação das regras contém bons exemplos pelo que foi fácil ler e começar a jogar.

A experiência de jogo
Café é um puzzle de encaixe de cartas que leva o jogador a tentar optimizar o seu espaço de jogo. Por um lado tem de sacrificar algumas posições (já que a colocação de uma carta pressupõe a sobreposição de dois espaços, pelo menos), por outro, deve aproximar posições com a mesma acção para poder optimizar o número de acções de que dispõe.
Poderá existir alguma tendência em não usar logo algumas acções, enquanto estas não estiverem lado a lado com outras semelhantes para serem optimizadas. No entanto, se o jogador não começar a produzir café suficientemente cedo, vai acabar o jogo com uma boa capacidade de produção mas sem pontos. Adicionalmente, é necessário pagar café do armazém para adicionar cartas com chávena.
Enquanto que, nos cafés (localização final em que podemos distribuir o nosso produto) a pontuação pela entrega é explícita, os pontos de café armazenado são contabilizados consoante os tipos de café que temos em menor quantidade – 2 pontos por cada cubo do tipo em menor quantidade, 1 ponto por cada cubo do tipo a seguir. Esta forma de pontuar leva-nos a reter estrategicamente alguns tipos de café e a tentar responder às encomendas com os tipos de maior produção.

Este é daqueles jogos que, quando termina, nos deixa com a sensação de querer mais rondas. Quando finalmente temos as acções optimizadas e prontas a realizar uma produção estonteante, o jogo acaba e contabilizamos os pontos. Este é, para mim, o único defeito do jogo.
De resto, é um jogo curto e agradável, sem grande interacção entre os jogadores que oscila entre a sensação de puzzle (no sentido em que se encaixam as cartas para optimizar o espaço de jogo) e uma fábrica ligeira (engine building). Encontra-se, neste momento, entre os nossos jogos curtos favoritos. Realço que não tivemos a oportunidade de o jogar a mais de dois (por conta da pandemia), mas dada a diminuta interacção neste jogo, acredito que, com mais jogadores, a única diferença será a maior duração do jogo.
Belo texto. Bem escrito e pertinente.