Em El Don descreve-se uma realidade semelhante à nossa que se distingue com a existência de super poderes nalguns seres humanos banais. Neste caso, o autor ao invés de construir uma sociedade de super heróis, constrói uma distopia autoritária, onde aqueles que revelam poderes são “tratados” e perseguidos. A ideia permite construir uma narrativa movimentada, carregada de acção, mas também de empatia, numa sociedade distópica.

A história

A história começa por nos apresentar um casal comum que resolve começar a poupar para ter o seu primeiro filho. Mas o sonho cai por terra quando o marido revela O Dom durante um jogo de futebol. Em tratamento para os poderes, passa por um procedimento obrigatório para ser infértil e assim se garantir que não gera descendência com o mesmo defeito genético.

Felizmente, a esposa já estava grávida – mas o que devia ser um momento de alegria marca o início de uma fuga para a clandestinidade, e o casal acaba escondido numa casa com outros humanos com um Dom. Juntos tentam derrotar o único humano com poderes que está legalizado, um super agente que sem simpatias nem empatias.

Comentário

A história é centrada, quase na totalidade, no casal. A narrativa é relativamente simples e linear, intercalando momentos mais movimentados com momentos de empatia, e oscilando entre um tom sério (provocado pela perseguição oficial) e mais ligeiro (provocado pela interacção e boa disposição das personagens principais).

Um dos pontos centrais na narrativa é o facto de personagens quase banais terem poderes – sendo que os poderes podem surgir em adultos. Até ao momento de os revelarem são pessoas normais, vivendo existências normais. Após a revelação, passam a ser controlados e perseguidos. O estado é o responsável pela perseguição, mas também os cidadãos, contaminados pela constante propaganda e medo, auxiliam neste controlo.

A descoberta de poderes transforma a vida dos cidadãos que passam a confrontar-se com uma existência distópica, remetendo-se para a clandestinidade – uma existência proibida que justifica a perseguição por agente policiais e, até, por vezes, a sua eliminação. É nesta realidade que personagens banais têm de se tornar corajosas e fazer sacrifícios pelos seus.

Esta história destaca-se pela capacidade de criar empatia, e de nos fazer interessar pelas personagens. Existe um investimento inicial por parte do narrador em garantir esta ligação, que funciona para nos levar pelos vários momentos mais mirabolantes que se seguem. Ainda, assim, apesar das perseguições e da urgência, existem novos momentos de ligação entre as personagens e com o leitor.

Um dos pontos menos positivos é o final, no qual não senti o devido impacto. As revelações finais são excessivas e, ainda que quebrem as expectativas criadas ao longo da história, não as senti totalmente coerentes.

Conclusão

Este El Don é uma boa leitura, proporcionando bons momentos narrativos e visuais. Existe espaço para grande expressividade e para criação de empatia, o que facilita a envolvência com o leitor. Tirando os momentos finais, é uma boa leitura, destacando-se a forma como usa uma premissa comum (seres humanos com poderes) para criar uma história diferente.