Paulo J. Mendes é o autor de O Penteador, livro que surpreendeu aqui há uns poucos anitos pela sua qualidade num autor que seria estreante nos livros de banda desenhada. O Penteador é um livro que se destaca pela aura de boa disposição, com uma sucessão de episódios mirabolantes e divertidos, carregados de detalhes que nos fazem simpatizar com as personagens. Mais recentemente, a editora Escorpião Azul lançou este Elviro, do mesmo autor, que, pela capa, promete o mesmo sentido de humor.

A história

Elviro é um aficcionado pelos eléctricos, decidindo-se a passar as férias numa vila costeira que estará prestes a substituir este meio de transporte pelos mais modernos troleicarros de dois andares. Com ele leva a esposa, uma senhora rabugenta que está no limite quanto à obsessão de Elviro pelos meios de transporte.

Chegados à vila, entendimentos e desentendimentos, levam o casal a fazer férias quase separadas, ainda que, dado o tamanho da vila, se cruzem frequentemente, agudizando o afastamento e o desentendimento. Ambos parecem estar em rotas divergentes.

Crítica

Tal como O Penteador, a história vai mostrando a facilidade com que as pessoas se cruzam numa vila pequena, fazendo amizades e encontrando-se frequentemente para mais uma almoçarada ou conversa. Neste caso, a vila, apesar de relativamente pequena, é um destino turístico, havendo várias senhoras nas praias a fazer top less. Tal como Elviro é obcecado por eléctricos, há mirones que se focam em fotografar as beldades de biquini. E é aqui que se gera uma das ondas de desentendimento.

Entre o padre que gosta de se divertir com o pequeno todas as noites, os mirones armados em púdicos que fotografam mas que não tocam na areia, e uma jovem extrovertida que Elviro conhece, alguns dos episódios vão criando um dublo sentido que vão irritando ou intrigando a personagem e o leitor.

Tal como O Penteador, Elviro vai conhecendo pessoas com as quais partilha interesses e aventuras, numa sucessão de episódios divertidos, mirabolantes, caricatos e carregados de desentendimentos que provocam bem estar no leitor.

Mas o livro não é apenas divertido, fazendo também um comentário à transformação forçada, tendo em vista uma modernização que tem por propósito encher os bolsos de alguns. Neste caso, a eliminação dos eléctricos está decidida, sendo que o presidente da câmara é irredutível. Personagem irritante, não só para o leitor, mas para todas as outras personagens, tem nitidamente amigos que irão lucrar com a negociata, ficando-lhe a dever favores.

Para além deste comentário político, a história mostra o desentendimento do casal que, apesar de todos os momentos de tensão, ainda têm alguns pontos em comum. Elviro, a personagem está numa idade crítica, e as irritações da esposa irão fazê-lo olhar para o lado.

O principal foco são, claro, os eléctricos e consoante Elviro explora a história deste meio de transporte naquela vila, mostrando os edifícios que servem de retiro aos eléctricos e percorrendo os carris, estes vão sendo detalhados ao leitor. É, nesta componente, a meu ver, que o livro tem o seu ponto negativo, com páginas ocupadas com tanto texto quanto desenhos, quebrando o ritmo de leitura.

Conclusão

Elviro é uma história mais longa do que O Penteador, mas com o mesmo bom humor que contagia o leitor. As imagens são tão caricatas quanto os episódios, sendo que o único ponto negativo são os longos textos que quebram um pouco o ritmo da leitura.

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