
A Ala dos Livros publicou recentemente um novo livro de Zidrou. Trata-se de uma história que noutros países, como em Espanha, foi publicada em dois volumes, e que aqui surge em volume único, em capa dura e extras como já é habitual nesta editora.



A história
Um forte sismo abala o Peru, fazendo milhares de vítimas mortais e outros tantos desalojados. A desgraça que parece distante e em nada impactar o quotidiano de uma família europeia, vai trazer uma revirabolta inesperada à vida de um casal de velhotes. É que o seu filho adopta uma menina peruana que terá ficado sem família.
O velhote, neste caso feito avó de um dia para o outro, vê-se confrontado com uma pequena menina que, não falando e não percebendo, vai conquistando lentamente o seu coração. A menina demora a habituar-se à nova família e ao novo idioma, mas não é a única. Também os avós vão fazer alterações para acomodar esta pequena na sua família.



Crítica
A adopção é uma história curiosa, com uma reviravolta inesperada. Começa como um caso de adopção solidário, feliz até, em que um casal se desloca ao Peru para adoptar uma criança órfã. Terá, claro, as suas dificuldades, mas o primeiro volume apresenta um relato amoroso, empático e comovente de um acolhimento, visto pela perspectiva do avo, que tendo alguma idade, se vai afeiçoando.
[Spoilers neste parágrafo] Mas afinal nem tudo é tão positivo quanto parece e a criança tem uma origem ilegal, sendo que o jovem que a foi buscar será preso. O segundo volume é bastante diferente, mostrando o avó temporário a deslocar-se ao Peru e a tentar reencontrar-se com a criança.
Como outras histórias de Zidrou, A Adopção não é uma história totalmente feliz e bem disposta. Tal como na vida, as personagens vão errar e sofrer com as suas más escolhas. Algumas outras, não tendo feito qualquer escolha, também acabam por passar pelas consequências, sendo levadas a um percurso de introspecção, confrontação e recuperação.
A história começa com um percurso cauteloso, onde, a par com a ligação que se estabelece com as personagens, vai criando empatia progressiva para com o leitor. Tudo, para nos tirar o tapete no final do primeiro volume e nos reconstruir num segundo, tal como reconstrói lentamente a personagem.
Após os momentos iniciais, muito pouco é o que parece, e nada prossegue na direcção que esperamos. Não que a história prossiga de forma mirabolante ou fantasiosa. Trata-se de uma direcção lógica e plausível, mas menos alegre e menos positiva do que nos leva a esperar no início.
A história é, desta forma, brutal. Sem violência física ou verdadeira violência psicológica, consegue chocar-nos emocionalmente, quase decepcionarmos pelas personagens que tomam decisões erradas. Já o desenho, esse, é, também ele, perfeitamente emotivo, apesar da aparência simples. Simples porque há momentos quase esboçados, em que os quadrados se resumem ao essencial, e por conta da forma como usa as cores. Mas essa redução ao essencial é exactamente o que necessário em alguns momentos, com um grande foco na interacção, ou nas expressões.



Conclusão
Adopção é uma leitura que fiz primeiro em espanhol e agora em português por conta da edição portuguesa. É uma história amorosa que nos quebra o coração e o reconstrói, mas não da forma como esperaríamos. Aliás, pouco é realmente expectável nesta história.
Comparação das edições portuguesa e espanhola
A edição portuguesa é equivalente à espanhola, ainda que o papel menos lustroso da edição da Ala dos Livros reflicta menos a luz tornando a página mais legível. Margens semelhantes, com contraste semelhante. Destacam-se as letras utilizadas, um pouco mais legíveis nalguns momentos. Outro ponto de destaque é, claro, o facto de a edição portuguesa conter os dois volumes, e a edição espanhola os ter separado. Esta separação tem algumas implicações na leitura, pois o primeiro volume apresenta um suspenso emocionante na história deixando-nos desesperados por saber o que acontece a seguir. As edições são equivalentes, também, nos extras que apresentam.

