Na minha busca incessante de histórias de fantasia e ficção científica com premissas inovadores, cruzei-me com este lançamento recente pela Image Comics. A sinopse promete um mundo que cruza ambos, ficção científica e fantasia, com a existência de tecnologia avançada e de magia.



A história
A história leva-nos, portanto, para uma realidade num futuro pouco distante, onde o avanço tecnológico é maior do que o da nossa realidade, mas, também, onde existe magia. As duas vertentes, tecnologia e magia, não coexistem pacificamente. Existem humanos que defendem a existência de magia e vêm a tecnologia como fonte de corrupção. O contrário também é verdadeiro, com os defensores da magia a serem atacados livremente.
A perspectiva é a dos utilizadores de magia, uma autêntica seita onde todos são levados a pensar nos malefícios da tecnologia, como origem de todos os males. Por forma a eliminar a corrupção no mundo, há que eliminar a tecnologia e subsistir apenas nas necessidades da magia. Para tal, todos são treinados desde pequenos, tendo de ultrapassar uma dura prova física. É com esta filosofia de vida que Mara cresce – uma mensagem por vezes incoerente, mas que lhe é imposta pela mãe, numa forma de irritante chantagem emocional.



Comentário
A premissa, apesar de curiosa e de poder alimentar uma série ao invés de um volume isolado, como é o caso, é usada de forma simplista e, até, naive. Mara, a personagem principal exerce o papel de escolhida como numa típica demanda. Tem uma missão que a leva a aproximar-se de um antigo mentor, agora renegado, para obter um elixir que poderá determinar a eliminação da tecnologia. Ao seu redor, Mara tem vários sinais de mentiras ou manipulações com origem na seita onde se encontra, mas ultrapassa-os e foca-se na missão.
O desenvolvimento é simplista porque se centra numa única personagem, sem motivações próprias, manipulada e, em perspectiva, pouco profunda. Sem verdadeiro querer e sem pensamento crítico, o desenvolvimento é, também, naive, pela forma simplificada como as interacções decorrem – uma tentativa de explicação pouco convincente ao leitor. Provavelmente o ponto mais marcante (e que realça este das interacções) é a baixa caracterização de personagens.
Não que o livro seja mau. Há bons elementos na construção do mundo e das suas premissas. Há reviravoltas que, existisse um bom envolvimento com as personagens, se tornariam mais interessantes. O visual apresenta, sobretudo, desenhos a preto e branco, com jogos de sombras e detalhes em traço fino. Apesar de alguns formatos demasiado geométricos (portanto, quadrados), o desenho traduz movimento e expressão.



Conclusão
Elixir não é um volume extraordinário. Também não é mau. Precisava, no meu entender, pelo menos do dobro do espaço para poder caracterizar personagens e dar mais força às reviravoltas que se sucedem. Com uma boa caracterização de personagens, a sensação de personalidades de papel poderia ser ultrapassada, fazendo com que se entendem algumas das suas motivações e decisões. Assim, ficamos com uma personagem principal pouco credível, que toma decisões finais pouco coerentes com tudo o que demonstrou ao longo da história.



