Este lançamento da Norma Editorial, editora espanhola que lança vários volumes de banda desenhada francobelga por ano, chama a atenção pela capa. Por baixo do título uma paisagem inóspita com um jovem montado num dinossauro. Acima do título, uma cidade invertida com prémios futuristas e decadentes. A sinopse também é intrigante, remetendo-nos para um mundo pós-apocalíptico onde a água é um bem precioso.

Afinal o que é Negalyod? Bem, é tudo o que promete a capa e a sinopse, proporcionando grandes paisagens e espectaculares páginas, mas também é menos do que o prometido, quando, em termos narrativos, tenta seguir uma linha mais épica do que consegue entregar.

O volume começa por nos apresentar um jovem que conduz uma manada de dinossauros por um deserto. Sem pai (que faleceu) nem mãe (que desapareceu), o jovem é obrigado a procurar outro objectivo quando toda a manada é assassinada de forma violenta e abrupta. Decide-se pela vingança e dirige-se para a cidade. O que aqui encontra é uma sociedade onde é exercida uma vigilância extrema sobre os cidadãos, proliferando um movimento que é um misto entre religião e força de libertação.

A narrativa tem reminiscências de várias outras narrativas futuristas e pós-apocalípticas. Alguns detalhes recordam algumas outras narrativas como o clássico Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley ou Cara de Luna de Jodorowsky, com a entrada no mundo civilizado de alguém que vem das terras selvagens. Neste caso, a sociedade não é de clones, mas o valor das pessoas é, também, muito baixo; nem a personagem principal tem poderes místicos como na narrativa de Jodorowsky.

Em relação à personagem, o autor parece não se decidir. Ora lhe coloca uma aura quase messiánica, ora o transforma num mero mortal, mas numa dualidade que não enriquece, antes torna sombria a fraca caracterização das personagens. Esta indecisão ou falta de direcção faz-se sentir também na sucessão de acontecimentos e nos diálogos.

Mas, passemos, finalmente, ao que o volume traz de bom – os desenhos. A cidade apresenta uma combinação de futurismo e tecnologia com decadência e degradação, opondo robots e vigilância com pobreza a escassez. O mundo que se nos apresenta tem uma boa diversidade de cenários, que o autor aproveita para criar fabulosas e imaginativas imagens. Aliado a tudo isto, claro, encontramos os animais mais impossíveis e fantásticos – os dinossauros.

Os desenhos são detalhados, e o autor mostra mestria quer na execução de corpos humanos, quer na criação de animais que se desconhece. As posturas transmitem movimento e o autor alterna planos e perpectivas para criar a sensação de um filme, nos momentos de maior acção.

Negalyod é um volume de mais de 200 páginas que apresenta um cenário de ficção científica, ainda que existam alguns detalhes que mais parecem fantasia. O mundo e o desenho possuem um potencial incrível, no entanto, o autor cria uma história que alguns defeitos narrativos – não tantos que a história em si possa ser considerada má, mas não ultrapassando o nível mediano. O que é pena, porque visualmente é excelente, e se acompanhados por uma narrativa de igual valor, o volume atingiria com facilidade o podium das melhores leituras.