Eis mais uma rubrica que será tão regular quanto a minha complicada disponibilidade o permitir – mostrar os novos habitantes das minhas estantes! Neste caso tratam-se de cinco livros, o que compensam os oito lidos na última semana. Pois é – aqui há uns dois anos comecei a contabilizar as leituras e as aquisições, para garantir que não estava a adquirir mais do que estava a ler e como forma de tentar diminuir o número de livros não lidos cá em casa. A batota a esta regra está nos livros que as editoras me enviam, que não entram nesta conta.

O Mundo sem fim

Entre estes cinco livros, há a destacar que três me foram enviados pela Ala dos Livros e pela Arte de Autor, sendo que há um deles que aguardava ansiosamente há mais de um ano, tendo integrado inclusivamente na lista de mais esperados para 2023 O Mundo Sem Fim. Antes de saber que o livro seria lançado em português pensei em adquiri-lo numa das viagens a Paris. Ainda bem que não o fiz, até porque o meu nível de francês ainda precisa de evoluir para me permitir compreender todas as nuances deste volume. Ou assim é a minha expectativa. Sei que é um livro polêmico na forma como aborda as questões ecológicas e de desenvolvimento sustentável.

A Universidade das Cabras

Ainda assim, e exactamente por conta das elevadas expectativas, entre os três, peguei primeiro em A Universidade das Cabras, de Christian Lax, autor de Un tal Cervantes. Peguei-lhe sem ter lido a sinopse nem me recordar deste outro livro do mesmo autor, julgando, de alguma forma, ser uma leitura mais ligeira. Enganei-me redondamente. É uma leitura poderosa e esmagadora, que, de forma surpreendente, encontra paralelismos entre diferentes épocas e regiões, demonstrando como tantos se opõem à educação de outros seres humanos, impondo mudanças culturais ou comportamentos, proibindo leituras ou tornando a cultura inacessível.

Também sobre O Lobo, de Rochette, nada procurei e espero lê-lo sem expectativas. Já percebi que deverá tratar-se de um dos autores de O expresso do Amanhã, e que em termos de imagens me esperam páginas a duas cores, carregadas de azul e branco.

O Lobo

Entre os restantes livros encontramos The Terraformers, de Annalee Newitz, a minha actual leitura. O livro encontrava-se, também, entre os meus mais antecipados de 2023, e pode ser encontrado em vários listas de melhores de 2023. Independentemente desses elementos, o livro apresenta como tema um dos que acho mais fascinantes na ficção científica – a transformação de um planeta para poder albergar vida. Mais especificamente, condições para albergar seres de origem terrestre. Não é, portanto, por acaso, que o jogo de tabuleiro Terraforming Mars é um dos meus favoritos. Para além da complexidade estratégica e do encadeamento de acções (algo que gosto) apresenta vários elementos científicos e teorias em como transformar um planeta.

Em termos de expectativas, The Terraformers está a corresponder, ainda que se centre mais nas interacções entre pessoas, numa cultura terrestre em expansão por vários planetas. Percebemos que o mundo é controlado por grandes empresas – pelo menos aquele onde a acção ocorre, existindo pessoas escravizadas que devem participar na terraformação, por forma a torná-lo atractivo para investidores. Apesar da premissa altamente capitalista, a perspectiva é, sobretudo, pessoal, apresentando e desenvolvendo personagens bastante diferentes. As expectativas para a progressão da história são grandes.

Finalmente, The Butterfly pertence a uma série de livros de banda desenhada, onde vários autores participam para adaptar histórias de Cixin Liu ao formato. Até ao momento adquiri três volumes e gostei de todo, ainda que The Circle, sendo já meu conhecido de uma antologia de ficção chinesa, me surpreendeu menos. Esse The Circle é, também mais frio na abordagem das personagens, e mais centrado na apresentação de uma ideia, apesar de possuir um conceito excepcional.

The Butterfly

Dos três, o que gostei mais foi For the Benefit of Mankind. Este Butterfly está entre os dois, tecendo uma teoria científica curiosa e sagaz, ao mesmo tempo que desenvolve uma perspectiva mais pessoal das personagens, estabelecendo relacionamentos e apresentando-se emocionante, mas pouco optimista. Independentemente do nível de empatia que cada um cria, todos os três volumes apresentam histórias excepcionais, bem construídas e controladas, bem adaptadas para o formato e acompanhadas por bons desenhos. Até agora é uma colecção muito competente.