Li o primeiro volume desta série há um pouco mais de três anos. Lembro-me de não ter achado o primeiro volume especialmente interessante do ponto de vista narrativo – mais uma série de detalhes fantásticos, onde as personagens principais se encontram numa demanda contra tudo e contra todos, em que se denota alguma influência oriental nas personagens e nos modos. Independentemente da percepção da narrativa, tinha gostado do desenho. E foi esta vertente que me levou a adquirir o segundo volume. Ainda bem.
Em Isola, duas personagens deambulam com uma missão – recuperar o trono da rainha transformada em tigre, e escapar aos soldados inimigos que se encontrarão no terreno. A mensagem que circula entre a população é que a Rainha terá morrido, deixando todos sem esperança numa reviravolta. Pelo caminho as duas personagens encontram uma aldeia atormentada pela perda das suas crianças.



Tal como no primeiro volume, o desenho é fenomenal. A história dá espaço para explorar os territórios que rodeiam as personagens, retratando longos penhascos e paisagens deslumbrantes. As circunstâncias permitem, também, belíssimos cenários nocturnos, com menos contrastes de cores, mas detalhes formidáveis.
Em termos de narrativa, a história apresenta-se mais coesa e mais direccionada. Este segundo volume apresenta uma ideia concreta que tem início e fim, um género de missão que é cumprida e dá algum sentido ao volume. Ainda assim, a inclusão desta ideia concreta para o fecho da série pareceu-me um pouco forçada.



Isola é uma história pausada. As duas personagens parecem deslocar-se sem pressas, apesar de referirem alguma urgência na sua missão. Este sentimento advém dos momentos mais introspectivos que exploram medos internos, percepções, e, até, o relacionamento entre as duas personagens.
Não é uma história excelente, ainda que, com este volume, tenha considerado que até é uma boa leitura. Este segundo volume convenceu-me bastante mais do que o primeiro. Infelizmente, a série fica-se por estes dois volumes e, ainda que neste segundo volume se apresente uma espécie de final, várias questões ficam por responder.



Retrospectivamente, e olhando para os dois volumes como um todo, o que percebo é que, apesar do contexto ser comum a outras histórias fantásticas, não se trata de uma história de aventura e demanda. Talvez por ter criado estas expectativas em relação à série tenha achado o primeiro volume tão fraco do ponto de vista narrativa. Na realidade, a história explora traumas passados e relacionamentos, referindo-se a ilusões e delírios que advém de inseguranças, mas num contexto fantástico e sonhador.
O resultado é, portanto, dúbio. Sendo uma série da Image com esta premissa criou-me expectativas de acção, mas na realidade é uma bonita história de amizade e amor, de tom pausado e, por vezes, introspectivo, que se destaca pelas belíssimas páginas – estranhamente, o desenhador parece não ter outras séries do género.


