Entre os lançamentos recentes de ficção especulativa e um livro que queria ler e que ainda não tinha encomendado, eis o que se junta às estantes neste mês de Março! Só três destes volumes são de BD. Nos restantes, encontramos dois livros de autoria portuguesa, sendo que comecei logo a ler A Brigada da Culpa – um livro peculiar.

O livro de Rui Galiza é uma distopia peculiar, preocupada com as dívidas históricas e sociais dos indivíduos e em distribuir as vantagens que determinadas famílias receberam. Como tal, alguém cuja família terá lucrado com a escravidão e que, ainda por cima, seja homem, branco e bem sucedido, terá uma dívida à sociedade por ter partido em vantagem. Até agora a narrativa parece conter um ligeiro tom irónico.

Aquilo que o sono esconde é o mais recente livro de Mafalda Santos. A autora começou com um conjunto de contos mais contidos, Conta-me escuridão, passando depois a uma ficção científica (distópica) com Do Outro Lado, e a uma meta-ficção com traços especulativos em Enquanto o fim não vem (premiado com o Prémio Ataegina). De livro a livro a autora tem alargado a sua imaginação e produzido narrativas mais envolventes e movimentadas, pelo que estou bastante curiosa para ler a sua mais recente obra.

Li Assistente do vilão há alguns mesitos, tendo achado uma leitura engraçada, mas que me frustrou por se revelar o primeiro de uma trilogia (isto porque não havia qualquer informação, quer na capa, quer na sinopse, de que o seria). Não que me importe de comprar primeiros livros de séries ou trilogias, mas prefiro saber o que estou a comprar. A história possui contornos engraçados, revelando-se uma Romantasy, um romance num contexto de fantasia, mas de desenvolvimento cómico e engraçado. Foi, portanto, uma leitura leve e engraçada, pelo que agora que saiu o segundo volume, Aprendiz do vilão, o adquiri.

A prova de que não me importo de adquiri o primeiro volume de uma série ou trilogia está na aquisição deste Uma Educação Mortal. Ainda não li a série mais conhecida da autora, Temeraire, tendo optado antes pelas histórias que publicou com referências a contos tradicionais: Spinning Silver, ou Uprooted. Tendo gostado destas histórias (apesar de ter embirrado com uns detalhes), resolvi adquiri o primeiro livro da série Scholomance, lançado recentemente em português pela Kathartika.

Do terceiro livro da foto, O Outro Vale, não tenho grandes expectativas, apesar de parecer um livro de contornos especulativos com uma premissa curiosa:

Odile, de dezasseis anos, é uma rapariga tímida e tranquila que concorre a um lugar cobiçado no Conselho. Se ganhar o lugar, será ela a decidir quem pode atravessar as fronteiras fortemente vigiadas da sua cidade. Do outro lado, é o mesmo vale, a mesma cidade — exceto que, a leste, a cidade está vinte anos à frente no tempo. A oeste, está vinte anos atrasada. As cidades repetem-se numa sequência interminável através do deserto.

Quando Odile reconhece dois visitantes, os quais não era suposto ver, apercebe-se de que os pais do seu amigo Edme foram escoltados através da fronteira do futuro, numa visita de luto, para verem o seu fi lho enquanto ele continua vivo no presente de Odile. Edme — que é brilhante, divertido e a única pessoa que conhece verdadeiramente Odile — está prestes a morrer. Jurando guardar segredo para preservar a linha do tempo, Odile torna-se na principal candidata ao Conselho, mas dá por si a aproximar-se do rapaz condenado, pondo em perigo todo o seu futuro.

O Outro Vale é uma exploração poética, distópica e emocional das complexidades do tempo, do amor e das escolhas que definem as nossas vidas. Scott Alexander Howard cria uma história inesquecível sobre perda, livre-arbítrio e esperança.

O mesmo acontece com os livros Sombras Imortais e QuickSilver, dois lançamentos recentes no nosso mercado com detalhes de fantasia. O primeiros, Sombras Imortais, foi lançado com duas capas possíveis e optei por aquela que era mais diferente.

Eis que chegamos aos livros de banda desenhada deste mês. Para o primeiro, O Punhal tenho grandes expectativas. Nuno Duarte é, também, o autor de narrativas como o genial A Fórmula da Felicidade, O Outro Lado de Z, ou O Baile. Já os artistas que o acompanham neste novo volume são todos já desenhadores conceituados e excelentes: João Lemos, Osvaldo Medina, Rita Alfaiate e André Caetano.

The Walking Dead é uma série mais de entretenimento, para a qual as expectativas são de grande acção e violência, por vezes com toques de horror – ainda que nem sempre sejam os zombies os verdadeiros monstros. Até agora a série tem cumprido com estas expectativas. Não é uma leitura excepcional ou surpreendente, mas que corresponde ao papel esperado e que distrai.

Para o último volume, Bobigny 1972 deixo-vos a sinopse:

Em 1972, Marie-Claire Chevalier, grávida na sequência de uma violação, foi denunciada por aborto clandestino pelo seu próprio agressor. Nessa época não tão distante, o aborto ainda era um delito punível com multa muito elevada e até prisão. A sua mãe, faz de tudo o que pôde para ajudá-lo, assim como as mulheres que participaram dos acontecimentos, também compareceram aos tribunais por cumplicidade. Este caso dramático, tristemente banal, torna-se um dos grandes julgamentos históricos com a ajuda de Gisèle Halimi, advogada de todas as principais causas feministas e anti-racistas.

A história de Marie-Claire e da sua mãe cria uma onda de choque na imprensa, no público e na sociedade. Giséle já não defende uma jovem “culpada” de aborto, mas ataca sim as leis e políticas anti-aborto em França. Com o apoio de grandes estrelas, atrizes, intelectuais, jornalistas franceses, mas também de figuras políticas, Gisèle Halimi pretende provocar uma jurisprudência da qual o tribunal de Bobigny se torna palco. Tratando de um assunto que poderia ter permanecido notícia, esta história, serve de base para aquilo que mais tarde se irá apelidar de lei do Véu, promulgada em 1975.