Já tinha adorado O Vento dos Salgueiros, adaptação do livro clássico de Kenneth Grahame. Apesar de ter um estilo algo antiquado, é uma leitura formidável e pausada, onde um grupo de animais amigos vive aventuras, ora caseiras ora mirabolantes. Cada um deles possui características bastante diferentes, sendo a combinação dos seus diferentes feitios e interesses um dos elementos para criar uma história curiosa. Este O Vento Nas Areias, baseado nas mesmas personagens, faz-nos retornar ao mesmo ambiente.
A história começa por nos apresentar um Rato que, gostando de ficar no mesmo sítio e vendo vários animais migrar, se questiona se alguma vez verá o mundo para lá do que conhece. A partilha das suas inquietações num jantar contamina o Sapo que, impulsivo e excêntrico, resolve partir para terras distantes e exóticas. Os restantes amigos correm atrás dele, acabando por embarcar sem dinheiro e sem condições, num barco que ruma a terras orientais.



Sem forma de poderem pagar por alojamento ou comida (quer dizer, o pouco que têm é levado pelo engano) arranjam forma de subsistir nesta cidade exótica, onde os costumes divergem. O choque de culturas resulta em momentos de humor e companheirismo, com o Sapo a provocar as mais loucas aventuras.
Tal como O vento nos Salgueiros, o volume apresenta uma narrativa quase sempre calma e pausada, com momentos onde se podem apreciar as paisagens, aqui representadas em aquarelas que criam belíssimas páginas. A viagem a locais mais exóticos permite explorar novos contextos e introduzir novidades visuais em relação ao primeiro volume.



O grupo vê-se numa cidade estranha onde os costumes são diferentes, existindo espaço para a estranheza, mas também para a habituação e para o acolhimento. A viagem fá-los cruzar os desertos, conhecer novos locais, culturas e costumes, o que surge como uma oportunidade para a aprendizagem e para o crescimento. Pelo menos para a maioria das personagens, já que o Sapo, impulsivo, nem sempre se apresenta com a humildade necessária.
Estas diferenças culturais vão sendo apresentadas num tom de neutralidade, explicando-se alguns costumes, mas sobretudo mostrando a adaptação das personagens. Apenas no final se afasta um pouco desta abordagem de confronto de culturas, ao mostrar um grupo extremista que usa os estrangeiros para os seus jogos de interesses, e que rapidamente é desmascarado.



Apesar do tom calmo e pausado que rodeia a maioria das páginas, onde se aproveita a vida e a hospitalidade dos vários locais, existem episódios mais movimentados, quase sempre provocados pelo Sapo. É por conta dele que o grupo é forçado a viagens sucessivas, onde ocorrem os encontros mais extraordinários.
Ainda que os feitios e as formas de estar dos elementos do grupo sejam bastante diferentes, o confronto com outras culturas mantém-nos fiéis a si próprios, sendo que a amizade e a lealdade que os une permanece no centro do enredo. Este elemento, que já era de grande destaque no volume anterior, confere uma aura simpática, agradável e envolvente, o que, combinado com a usual gentiliza da maioria das personagens cria uma forte empatia durante a leitura.



Não é assim de estranhar que, tal como aconteceu com O Vento nos Salgueiros, tenha adorado O Vento nas Areias. Este segundo volume afasta-se um pouco da narrativa mais tradicional apresentada no primeiro, mas usa as características principais das personagens para criar um conjunto de aventuras adoráveis.

Alguém já leu “Protocolo Téssera” ou “O Log do Jardineiro”? Simplesmente fantásticos.