A série Wayward Children tem acumulado inúmeros prémios, aparecendo frequentemente entre os premiados ou nomeados para os Locus, Hugo, Nebula ou British Fantasy Award (entre outros). Este primeiro volume da série não é excepção e tendo sido nomeado para o BFA e para o o World Fantasy Award, venceu o Hugo, o Locus e o Nebula na categoria de Novela. Peguei portanto na série sem saber muito bem o que ia apanhar – e tenho a dizer que apesar de apresentar personagens na adolescência, é uma narrativa sombria, onde todas as premissas fantásticas se tornam negras.

A história decorre num colégio interno onde se reúnem várias crianças ou adolescentes que viveram durante algum tempo nalgum outro reino, fora da nossa realidade. Há mundos agradáveis e outros de horror, mas todos requerendo alguma adaptação por parte da criança que lá entra. Infelizmente (pelo menos na sua perspectiva) estas crianças saíram destes mundos, e aspiram retornar a estas realidades às quais se adaptaram. Tal pode acontecer, mas não a todas.

Este primeiro volume centra-se sobretudo em Nancy, uma criança que também desapareceu num destes reinos, voltando irreconhecível por parte dos pais. Os relatos fantásticos que justificam o seu desaparecimento não são credíveis por adultos que acham que ela padece de algum mal psicológico. Quando são contactados pelo colégio como uma alternativa possível, acedem em enviar a filha, desejando uma recuperação – porque não pode Nancy voltar a ser como antes?

Nancy não é a única jovem que, apesar de gostar dos pais, gostaria de voltar ao mundo onde viveu nos últimos tempos. Tratava-se de um mundo de sombras, onde aprendeu a ser quase invisível, sustendo a respiração e qualquer movimento, e passando despercebida nos mais diversos contextos. No colégio encontra outros como ela, mas que ganharam trejeitos diferentes. A sua colega de quarto, por exemplo, apresenta características opostas, estando sempre em movimento e em conversa.

Se acham que se sucede um género de colégio mágico onde o foco fica nas tensões juvenis, desenganem-se. Realmente há tensões, mas estas resultam na actividade de um assassino em série, sendo que um dos jovens começa a fazer vítimas de forma macabra. É também neste seguimento que vemos como alguns dos jovens têm poderes bastante mórbidos.

Este primeiro volume da série Wayward Children é pouco esperançoso, sombrio e negro. Cada criança ou adolescente carrega um trauma bastante próprio, que vai ser explorada nesta curta história para resolver o mistério dos assassinatos – e ainda que haja uma resolução, esta é inquietante. Tendo já lido, entretanto, o segundo volume, tenho a dizer que é uma das leituras mais negras que li nos últimos tempos, não só pelos aspectos macabros, mas pela componente psicológica que justifica a transformação dos jovens.

Postais distribuídos aquando do lançamento, disponibilizados por Uffe Stegmann