Vencedor do prémio Hugo e nomeado para o prémio Locus, The Empress of Salt and Fortune é o primeiro volume de uma série fantástica denominada The Singing Hills Cycle. A série conta actualmente com cinco volumes, existindo mais dois com data de lançamento já anunciada, e vários prémios e nomeações, destacando-se o quarto volume com nomeações em todos os prémios mais conhecidos para o género (Hugo, Locus, World Fantasy Award e Nebola) além de estar na listagem curta do Ursula K. Le Guin.
O nome da série derivará de um mosteiro que, neste mundo imaginado, se dedica à preservação da memória e das histórias dos vários povos que nele habitam. A missão deles é clara, viajando para reunir histórias, canções, documentos, mitos e testemunhos reais – a sua preocupação em preservar vai para além da tentativa de impor uma verdade absoluta, registando também diferentes versões da mesma história.
Neste volume, um monge desta ordem encontra uma idosa que terá trabalhado como criada e confidente da falecida Imperatriz. O relato tem importância, não só pela proximidade que se cria entre a criada e a Imperatriz, mas também pelos detalhes subtis que vão sendo revelados – um plano engenhoso e escondido que vai levar a um mundo decisivo na história do Império.
A Imperatriz terá casado por obrigação política. No seguimento de uma guerra, é uma espécie de prisioneira que tem uma função muito explícita – ter um filho que possa unir as duas nações. Cumprindo esta missão é exilada, conjuntamente com a sua criada, havendo uma rotação constante do pessoal do palácio, por forma a não poder estabelecer outros contactos duradoiros.
A narrativa começa lentamente, aparentando uma sucessão de episódios mais introspectivos e calmos. No entanto, percebemos que a Imperatriz aproveita ser subvalorizada para criar uma resistência silenciosa com alianças subtis, onde os mais banais objectos poderão ser sinais, imperceptíveis, e estabelecer uma comunicação perigosa. O plano cruza engenho, inteligência e resiliência, fazendo com que a progressão da história vá cativando o leitor lentamente ao revelar, subtilmente a intriga.
O livro é pequeno, sendo que a história não apresenta grande contexto sobre o mundo – é algo que devemos ir construindo através dos desenvolvimentos apresentados. Também a percepção sobre os acontecimentos mais globais é derivada da perspectiva limitada da criada. E ainda assim, o mundo criado é rico em detalhes e sub-histórias, interpretações e elementos fantásticos.
Em termos de história, The Empress of Salt and Fortune mostra como elementos subvalorizados da sociedade conseguem, através da resiliência e da inteligência, tecer planos que têm um impacto histórico relevante – sem acções heróicas ou magistrais, sem confrontos directos, mas usando a percepção a seu proveito.
É uma história curta e de leitura lenta, onde os detalhes se apresentam em passagens pausadas, mas carregadas de significado. Felizmente existem outros livros onde o Universo fantástico poderá continuar a ser explorado.
