Enciclopédia da Estória Universal de Afonso Cruz foi o único livro a merecer menção no artigo da Locus sobre a ficção especulativa de 2009 em Portugal, e até agora um dos melhores livros que li nestes três meses de 2010. Este é um livro bem diferente de Enciclopédia, incluído na colecção Infanto Juvenil da Caminho. Não o classificaria como juvenil, apesar de poder ser lido pelos mais jovens, fazendo justiça a um parágrafo que podemos encontrar no início:

(…)um bom livro deve ter mais do que uma pele, deve ser um prédio de vários andares. O rés-do-chão não serve à literatura. Está muito bem para a construção civil, é cómodo para quem não gosta de subir escadas, útil para quem não pode subir escadas, mas para a literatura há que haver andares empilhados uns em cima dos outros. Escadas e escadarias, letras abaixo, letras acima.

Elias Bonfim é um rapaz órfão de pai, que um dia descobre que este não terá morrido de enfarte, mas terá desaparecido por entre as páginas de um livro, A Ilha de Dr. Moreau.  Com esta revelação é-lhe fornecida a chave para um sótão repleto de livros, os mesmos que o pai terá percorrido. Entre as páginas do livro encontra pistas do pai, como um cão preto (Prendick) que o encaminha para Mr. Hyde.

A história intercala então a vivência de Elias enquanto criança, com os colegas de escola, e enquanto leitor, onde se entrelaçam os livros que vai devorando, ou pelos quais vai sendo devorado, com múltiplas referências a obras como Fahrenheit 451 (Ray Bradbury), Crime e Castigo (Dostoievski), Animal Farm (Orwnell) ou Dr. Jekyll e Mr. Hyde (Robert Louis Stevenson).

Apesar de pequeno, Os Livros que Devoraram o meu pai esconde, por detrás da história simples de um rapaz (ou não tão simples como isso) várias outras camadas, interessantes sobretudo para quem conhece as obras referenciadas.